9 de jun. de 2015

"Pelotas, cidade histórica de história esquecida" por Carlos Pinheiro Martins

Estamos nos aproximando de mais um Dia do Patrimônio, isso me leva a lembrar um comentário que fiz na minha rede social no ano passado, comentei sobre o nível de despreparo que nossa cidade tem para lidar com o nosso belo, histórico e importante patrimônio e isso não tem nenhuma ligação com governo A ou B, partido A ou B, é histórico, nossa história foi se perdendo e se deixando esquecer com o passar dos anos sem que nada seja feito de forma contundente.
Como todos sabem, Pelotas já foi comparada a Paris, Pelotas já foi dita como polo turístico, Pelotas é patrimônio histórico, quantas vezes narrada e cantada. Onde foi parar esses títulos? Na história que está sendo esquecida. Garanto que, se nunca essa importância houvesse sido deixada de lado, Pelotas seria um polo turístico tão importante para o Estado quanto é Gramado ou as cidades da serra. A história ta aí, os prédios históricos estão aí, mas não são aproveitados, poucos têm acesso para visitantes, poucos tem histórias conhecidas.
A própria cidade tem subsídios para mudar radicalmente isso, somos uma cidade universitária com cursos importantes como turismo, história, teatro e tantos outros. Imaginem o turista chegar na cidade e ser recepcionado por artistas, devidamente trajados como na época perambulando pela cidade, como se ainda estivessem por aqui os moradores da época, com convites para conhecer suas casas e estas estarem abertas para que pudessem ser visitadas e ouvirem historias sobre elas. Fazer uma rota turística por dentro da cidade em carro aberto ou histórico passando pelas casas, charqueadas, praças, praias, enfim por onde houver história a ser contada, que diga-se de passagem é toda a cidade. Lindo seria se Pelotas fosse uma grande cidade cenográfica, quantas pessoas viriam nos visitar tendo certeza de que estaria vindo para dar uma volta no passado, que interessante seria ver crianças brincando na praça com roupas e brinquedos de época sendo reparados por suas amas, como ocorria no passado. Alunos do teatro poderia suprir essa ideia, atores ensinados por alunos de história, ou esses acompanhando sempre para dar as informações, contar as histórias. Como seria atrativo e bonito termos personagens aristocratas sentados no mercado comendo um doce, tomando um chá conversando e convidando as pessoas para irem ao seu trabalho no Banco Pelotense. Depois de uma volta pelos prédios históricos do centro, poder ir, convidado por uma bela e elegante senhora a conhecer a sua casa e descobrir que essa senhora é a Baronesa e sua casa é o museu ou convidado por um Senhor a visitar sua charqueada e ele ir junto até lá contando histórias sobre como construiu coisas que passou e ir até a praia, sabendo como ela surgiu. Como seria emocionante encontrar nosso celebre Simões Lopes pela rua ou na biblioteca contando histórias sobre seus Contos. Porto Alegre enaltece a Quintana, Rio de Janeiro a Drummond e tantas outras, por que nós não? Enfim, como disse antes, uma grande cidade cenográfica, atrativa, a final já temos os cenários prontos, eles precisam e deveriam ser usados.
Alguns poderiam dizer que isso sairia caro, mas se bem embasado, se bem feito, se houver todos esses atrativos, será pago com prazer. Praticamente todos que viajam já sabem e contam que irão gastar e terão prazer em gastar se for por algo com retorno interessante, quantos divulgarão a seus amigos, "vá a Pelotas! é lindo, parece que você voltou no tempo, você é recebido pelos moradores das casas com roupas de época que contam histórias da época!", o Dia do Patrimônio está chegando, mais um ano em que eu irei revisitar os prédios, certamente encontrarei pessoas mal preparadas como guias, que não saberão contar histórias interessantes, apenas dirão o básico, o bem básico e muitas vezes o óbvio ou alguns absurdos. Lembro de que no ano passado ouvi que nosso Arroio São Gonçalo chamava-se Rio São Lourenço. Esse ano garanto que está perdido, mas quem sabe alguém com força para movimentar isso consiga preparar para o próximo ano, por favor, faria tão bem para nossa cidade. E por final, de nada adianta isso acontecer só nessa data, boa parte das pessoas têm apenas o final de semana para viajar e se decidem vir para Pelotas, o que encontram são fachadas, pois nada está aberto, nem mesmo a biblioteca, prefeitura, outros prédios públicos e nem mesmo o mercado abre no domingo, esse último que está lindo depois da reforma, mas não é mais um mercado com cara de mercado, não há mais bancas com muitos cheiros, com muitos produtos pendurados, frutas, temperos, aquele sentimento de "só tem no mercado". Quantas vezes vejo guias, que muitas vezes são ótimo e podiam ser melhor aproveitados, contando histórias de um prédio fechado, com suas lindas portas tristes fechadas e trancando a história que está lá dentro, quantas pessoas não ficam sagazes por entrar no prédio e sentir aquela sensação de voltar no tempo de reviver a história. Emocionante.
Não deixemos que nossa história seja ainda mais esquecida, que ela caia junto com nossos prédios.

Texto de Carlos Pinheiro Martins
cpmmartins@yahoo.com.br

Pelotas comemora o dia do patrimônio nos dias 14, 15 e 16 de agosto de 2015. Fonte: http://www.pelotas.com.br/






O texto aqui publicado é de responsabilidade do autor. Caso queira enviar o seu, mande para o e-mail preteritaurbe@hotmail.com.

4 comentários:

  1. Bom dia Caríssimos
    Um bom dia especial ao Sr. Carlos Pinheiro Martins, que nos brindou com esse maravilhoso texto que entre outras coisas propôs de forma clara e objetiva uma excelente ideia sobre o que fazer. O difícil é manter isto, pois a iniciativa privada pensa no retorno, já o poder público pensa no que pode sobrar.
    Para quê?
    O óbvio.
    Pelotas há muito carece de pessoas que pensem grande. Vivo a escrever em meu blog sobre minha cidade, e o que escrevo não são simples fatos históricos. São fatos na maioria vivenciados, pois nasci no ano de 1946 e muitas coisas carrego em minhas lembranças. Lembranças de uma Pelotas cheia de graça, que mesmo em decadência preservava o passado rico, mesmo que fosse um daqueles sobreviventes de uma família arruinada, falida que se tornara miserável, mas muitos permaneciam esnobes, nariz empinado e cheio de “recuerdos”. Pelotas sempre viveu de seu passado opulento e aos poucos vai perdendo o brilho até cair no esquecimento.
    Há nove anos levei meu neto que na época estava com seis anos, para conhecer Pelotas e ao passarmos por um belo prédio na Andrade Neves minha mulher comentou sobre um horrendo tapume em volta, e o casarão em ruínas, e meu neto, em sua ingenuidade perguntou:
    - Vô, por que não arrumam essa casa?
    O prédio foi, depois de muito tempo restaurado, e tão logo pronto um maldito pichador escreveu um monte de garatujas em suas paredes. E isto quem faz não são forâneos, é gente da própria cidade, dessa grande parcela que pensa pequeno, desta parcela que não sai do marasmo, e isso se vê na construção de casinhas baixinhas, estreitas, tristes, todas de mesmo moldelito, uma portinha recuada e uma janelinha pequena e estreita, conforme se construía pelos anos 20. Não me refiro aos grandes solares e mansões e sim aos verdadeiros casebres que ainda são construídos, em terreninhos de 4 ou 5 metros, o que deveria ser proibidos, isto mostra o pensar pequeno. O mesmo pensar pequeno dos atuais comerciantes pelotenses, que continuam com seus comércios de portinhas de calçada tentando sobreviver. Canoas onde moro esta a todo vapor construindo seu segundo imenso shopping, que será servido por duas linhas do aeromóvel, e já projetando um terceiro, enquanto isso a minha cidade de Pelotas construiu uma grande feira ao qual deram o nome de shopping, muito aquém do que o povo da cidade merecia.
    A grande maioria não tem essa sensibilidade de pensar como pensa Carlos Pinheiro Martins, por isto Pelotas é uma cidade triste aos que a ela chegam pela primeira vez.
    Há mais de quarenta anos resido fora de Pelotas e sempre que volto fico surpreso, não com o que fazem a seu redor, mas o que não fazem em seu coração, continua a mesma cidade triste, o que me dá uma tristeza muito grande em revê-la cada vez pior.
    Um bom dia.
    Prof. Pedro.

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  2. Boa noite professor.

    Muito obrigado por suas palavras. Concordo plenamente com sua explanação e a muito vinha com vontade expor esse meu pensamento sobre a cidade, mas não via meios, sempre achava que um simples post meu no facebook seria pouco lido então pensei em trazer para o Preterita pois sabia a visibilidade seria maior e talvez conseguiria atingir alguém que possa vir a mudar ou tentar mudar nosso futuro. Todo meu conhecimento sobre a cidade se baseia em estudos e paixão pela cidade, pois quando nasci em 1983 já peguei a fase da decadência e ano a ano fico mais triste. Uma coisa destaco em sua resposta "Pelotas sempre viveu de seu passado", porque não assumir isso e gritar aos quatro cantos que viveremos sim do passado e iremos usar dele para sobreviver, se aqui é tão difícil o "pogressio" (como diria Adoniran) chegar, então que façamos o chamamento para que o povo volte no tempo conosco.
    Mais uma vez obrigado por suas palavras.
    Boa noite

    Carlos Pinheiro Martins

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  3. Olá Carlos.
    Podemos estar transformando o PretéritaUrbe em um site de debates. Que legal se acontecesse. Aproveito para deixar aqui um abraço ao Fábio Zundler.
    Porém ao encontrar tua resposta até uma fortíssima dor de cabeça amenizou. És um jovem preocupado com a nossa Pelotas, e isto é muito bom. Eu passei pela fase ainda de uma Pelotas com o porto movimentado, já que a estrada para Porto Alegre era uma precária estrada de terra, vi ser asfaltada no ano de 1959/60, e anteriormente havia viajado de barco para a capital, no ano em que eu nasci, pela empresa de navegação Itapetininga. Era tudo bem mais difícil. O tempo passou e hoje vejo que é a cidade de Rio Grande é que está puxando o desenvolvimento da Zona Sul, para aonde vão diariamente muitos pelotenses trabalhar. Quero um dia ver, se a vida me permitir, minha cidade transformada em um grande centro. O que falta para nossa cidade são as indústrias,mas para isto o próprio povo tem que mudar, ninguém vive só de comercio e cultura. As industrias que até os anos setenta funcionavam, principalmente no ramo de alimentação foram fechadas.
    Continues a escrever. Acredite em ti. Tens um grande potencial, só basta explorar.
    Um grande e fraterno abraço.
    Prof.Pedro

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  4. Olá meus caros, seria ótimo transformar em debate este post e este blog, Pelotas precisa disso de debate e idéias novas e em conjunto, fiquem a vontade, posts são sempre incentivos para continuar postando e procurando o que postar. Obrigado e abraço!!

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