3 de jan. de 2016

Aldo Daniele Locatelli




     Aldo Locatelli nasceu em Bérgamo, no norte da Itália no ano de 1915. Nasceu em uma família humilde mas que tinha como valor básico o estudo e como meta a boa formação dos filhos. Desde os dez anos de idade o menino manifestou interesse pela pintura, a partir do contato com restauradores que trabalhavam recuperando obras na igreja local.
   Em 1931 fez um curso de decoração no CursoLivre de Instrução Técnica, ligado à Indústria Andrea Fantoni. Ali teve aulas com o pintor Francesco Domenighini, que lhe proporcionou pela primeira vez contato com obras de grandes mestres da pintura renascentista. Um ano depois foi admitido na Accademia Carrara, de Bergamo, célebre instituição de ensino superior de arte, sendo introduzido no método e filosofia acadêmicos e tendo contato com Conrado Barbieri, diretor da instituição, cujas ideias fascistas teriam influenciado o artista. Nesta época teria produzido muitos estudos de retrato, paisagem e natureza-morta, num estilo ainda incerto e tendendo à estilização. Mas já então seu trabalho se destacava pela sua habilidade em construir cenas complexas e dramáticas.
     Premiado em 1937 com uma bolsa de estudos para aperfeiçoar-se na Escola de Belas Artes de Roma, aprofundou seus estudos sobre a arte da Roma Antiga e da Renascença, cristalizando uma filiação estética que seguiu por toda a vida.
Entre 1943 e 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou em sua primeira obra na Catedral de Gênova. Suas obras religiosas estão no Santuário de Mulatiera, Paróquia de Santa Croce, Convento das Irmãs S.S.Consolatrice, em Milão, Catedral de Gênova, cúpula da igreja Nossa Senhora dos Remédios, Santuário Nossa Senhora da Pompéia, Colégio da Consolata, em Milão entre outros.
    Em 1948 viajou para o Brasil, a convite de Dom Antônio Zattera, bispo de Pelotas, no Rio Grande do Sul, para pintar a Catedral São Francisco de Paula. A cidade lutava contra o declínio econômico e cultural, após ter sido conhecida no fim do século XIX até o início do século XX como "a Atenas do Rio Grande" e ter então dominado a indústria do charque, uma das maiores fontes de renda estadual na época. Neste ciclo Pelotas havia produzido um grande pintor, Leopoldo Gotuzzo, que entretanto se mudara ainda jovem para Roma a estudo e depois se fixara no Rio de Janeiro, o centro da vida cultural brasileira. Seu nome permaneceu, porém, lembrado na cidade, e seu sucesso orgulhava os pelotenses.
    Locatelli passou a a lecionar na Escola de Belas Artes em Pelotas no final da década de 1940. Organizando exposições de trabalhos de alunos e de sua própria autoria. A contribuição de Locatelli a Escola teve uma importância fundamental para consolidar e modernizar o sistema de artes na cidade, embora novamente tenha enfrentado muitas adversidades por escassez crônica de recursos.
    Permaneceu no Brasil, com sua esposa Mercedes Bianchieri, acompanhando-o desde seus trabalhos na Itália, e com ela teve dois filhos.
Em 1950 firmou contrato para a decoração da Igreja de São Pelegrino, em Caxias do Sul, e logo sua fama chegou à capital, Porto Alegre, vencendo em 1951 uma concorrência do Governo do Estado para executar um ciclo de painéis no Palácio Piratini.
    O Rio Grande do Sul, circunstancialmente, atravessava um período de crise e se buscavam símbolos identitários que pudessem mobilizar a população e acender seu civismo. Não surpreende que o tema desse ciclo, instalado na sede do poder político estadual, tenha sido a formação histórica e étnica do povo riograndense, tratado com forte carga emocional e monumentalidade e centrando a atenção nas Missões Jesuíticas, nos Bandeirantes, na criação de gado e no gaúcho, no folclore nativo, na família como unidade social básica, na aventura da colonização e na agricultura.
   Em Porto Alegre, Locatelli foi solicitado para pintar o grande mural do Aeroporto Salgado Filho, o painel central da Catedral Metropolitana, o mural da UFGRS, o mural da sala dos músicos no Instituto de Belas Artes do Estado do Rio Grande do Sul onde foi convidado a lecionar. Em 1954 naturaliza-se brasileiro.
   Faleceu em 1962 em Porto Alegre aos 47 anos, vitimado pela inalação continuada dos produtos químicos provenientes das tintas que utilizava. A contribuição de Aldo Locatelli para a pintura no Rio Grande do Sul foi de grande importância, tanto como professor quanto como criador. Assim que chegou ao Brasil sua obra exerceu impacto positivo e foi reconhecido como um mestre.



Detalhe de autorretrato de Aldo Locatelli (1945)
Algumas de suas obras no Brasil:
1949 - Catedral de São Francisco de Paula - Pelotas
1950 - Mural ‘A Conquista do Espaço’, Aeroporto de Porto Alegre
1951 - Igreja de São Pelegrino, Caxias do Sul
1952 - Igreja Santa Terezinha do Menino Jesus, Porto Alegre
1954 - ‘Do Itálico Berço à Nova Pátria Brasileira’, Caxias do Sul
1957 - Painel Central da Catedral Metropolitana, Porto Alegre
1958 - ‘As Profissões’ / UFRGS
1960 - Painel para Federação das Indústrias do RGS, Porto Alegre
Série de pinturas sobre a Virgem Maria / Catedral de Santa Maria-RS
Fonte: Projeto Memória Pelotas