2 de out. de 2015

PROPOSTAS PARA UM CARNAVAL POPULAR por Clovis Veronez

A questão da realização ou não do carnaval 2016 em Pelotas, tem gerado uma grande preocupação de parte das entidades e, se não gerou, ainda, deveria gerar ao poder público, ao qual cabe a responsabilidade de viabilizar uma estrutura mínima para que os festejos populares possam ocorrer.
A prefeitura dispõe-se a repassar as entidades um montante de R$ 300 mil. O valor é aceitável, visto que, corresponde ao que foi dotado em 2015. Penso que as entidades deveriam aceitar esse repasse como subvenção. Seria justo, face à crise e a situação excepcional alegada pelo poder público. A partir disso, discutir as condições minimas para que o evento ocorra.
Batido o martelo, sobraria a questão do local para os desfiles? Penso que não.
Há muito, as entidades e os governantes deveriam ter incluído na sua pauta de debates e reuniões a questão de um modelo de festa popular que favoreça o aprimoramento e ao desenvolvimento do produto carnaval integrando-o as políticas de desenvolvimento turístico e econômico do município. A excepcionalidade da situação poderia oportunizar, assumidas as responsabilidades, um “balão de ensaio”, sobre alternativas no modelo de festa.
Pelotas adota, a muito tempo, o modelo do Rio de Janeiro como padrão, ou seja, o concurso em arena fechada envolvendo todas as categorias e estilos que compõe nossa cultura carnavalesca (blocos e escolas mirins e adultas, burlescos, bandas) tudo no mesmo espaço e faixa aproximada de horários.
Além de reduzir a participação do público e absorver uma soma vasta de recursos, o modelo “sambódromo”, em sua precariedade, fortalece e alimenta as criticas de uma parcela da população, que não enxerga com bons olhos o evento.
Esse formato, não produz bom resultado. Ao mirarmos o inalcançável modelo “Made em Rio de Janeiro”, esquecemos aquilo que nos torna únicos (nossas raízes culturais e nossa história), não raramente sucumbindo à mediocridade de um “arremedo”.
O saldo é previsível: prejuízos a sustentabilidade da festa, enfraquecimento da sua cadeia produtiva e decadência continuada do carnaval.

Isso posto, apresento um conjunto de idéias, com olhar direcionado a discussão que se impõe agora, e adiante. Essas idéias, acrescidas de outras originadas no debate entre as entidades, poderiam ser “testadas” no carnaval de 2016, como alternativa a sua viabilização.
1-Faça-se a luz para abrilhantar a festa
Defendo, por diversos motivos, a realização de um carnaval diurno. Mas, destaco aqui, três aspectos: 
- Primeiro (referente à sua própria visualização) A luz do dia torna mais nítida a avaliação dos critérios estéticos dos cortejos, considerando-se que: impõe leveza e cuidadoso acabamento de fantasias e alegorias. 
- Segundo, diz respeito à segurança do público, e dos que desfilam.
- Terceiro, por que reduz a zero uma demanda técnica sempre insuficiente e cara. A participação popular, tenho certeza, ampliar-se-ia em escala geométrica.

2- Faça-se “cultura” para encantar o público
Os desfiles temáticos e técnicos deveriam segundo essa idéia, eleger um tema comum para a mostra em 2016 , voltados à valorização de aspectos relevantes da cultura popular local.
Um tema que proporcionasse um mergulho na “Cultura carnavalesca da cidade de Pelotas”, me pareceria adequado a todas as categorias e simpático ao público, nesse momento de incerteza.
Isso em nada inibiria a inventividade, ao contrário, estimularia a pesquisa crítica da história e das suas referencias estéticas, servindo de base a construção da cena, proposta no “cortejo” carnavalesco.
O desfile teria, nas escolas de samba, caráter “épico” de critica e reinvenção da cultura popular. Nos burlescos o espaço adequado à sátira de comportamentos e costumes.
Nessa perspectiva, precisam ser avaliados os quesitos técnicos ou, considerados obrigatórios, para o desfile das escolas de samba locais (adultas e infantis) onde, também, nos orienta um organograma “importado” do carnaval carioca, em muitos aspectos, descolado da cultura carnavalesca local. Cito como exemplo o caso da obrigatoriedade de uma ala de “baianas” ou do próprio desfile organizado por alas.
Sobre esse aspecto, penso sobre alternativa hibrida entre o modelo dos clubes sociais (espetáculo plástico e alegórico), do final do século IXX e do inicio do século XX e aquele proposto pelas agremiações originadas nas comunidades negras em meados do séc XX (cordões), voltados ao envolvimento das comunidades e valorização do samba.
Penso, como proposta a ser discutida, que os quesitos obrigatórios deveriam ser: Estandarte, Alegoria temática (única), corte, passistas, Fantasias em destaque, cena de conjunto, mestre sala e porta bandeira, samba temático e bateria. A proposta visa resgatar os elementos estéticos que aproximam o carnaval a um conceito de espetáculo ou, se preferir, de uma ópera popular. Ficam valorizados os aspectos cenográficos, de dança e bailado, os musicais e os culturais/locais.
3- Diversifiquem-se os espaços para envolver a cidade e o público
É preciso distinguir os desfiles temáticos e técnicos daqueles não regulados por quesitos. Assim, vislumbra-se a possibilidade de espaços alternativos para as apresentações como por ex: o largo do mercado para as bandas, o entorno da praça Pedro Osório para as escolas e blocos infantis, a rua Osório para os burlescos e a avenida Bento para as escolas adultas.
Estas são idéias iniciais, que coloco a apreciação do universo carnavalesco da cidade e de todos aqueles que desejam o desenvolvimento da cultura popular em nosso município.

Texto de Clovis Veronez


* Foto Carnaval na Rua XV de novembro em 1968
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2 comentários:

  1. Texto muito interessante, mas senti a falta a menção de uma das coisas mais belas e comuns dos antigos carnavais da cidade: os Conjuntos Vocais com seus violões, cavaquinhos, banjos, pandeiros ...
    Num retrato dos carnavais que me lembro vivamente os "Conjuntos Vocais" com seus trajes brilhantes são a primeira cena !

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  2. No "meu tempo" (1950/60/70), o Carnaval era realmente uma festa popular. E de muita qualidade. Era mesmo + popular pq ñ tão dependente do Poder Público. Nestas coisas, qdo entra Governo, nunca dà bom resultado. Os interesses passam a ser outros.

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