20 de mai. de 2016

A Chopeira do "A Gruta" por Paulo Lanzetta

Registro de Paulo Lanzetta da Chopeira do Bar "A Gruta", que ficava na Rua Andrade Neves (hoje calçadão). Foto de meados da década de 70, enviada por Guto King.




8 de abr. de 2016

Liga pró defesa de Pelotas


“Com uma concorrida sessão, tendo por local o Theatro 7 de abril, era fundada em 16 de janeiro de 1931 a liga Pró Defesa de Pelotas, era uma entidade sem cores pertidárias e nem religiosas.
Era seu objetivo exclusivo:

  • Conseguir a execução de um programa administrativo- economico, aprovado em sessão da fundação da liga.
  • Cuidar de todos os interesses gerais, principalmente dos do município.
    Art. 2° - A liga procurará conseguir a junção de ligas com o mesmo fim, no maior numero de municípios.”
Fonte: Fascículo Pelotas Memória n° 5 - Ano 1999 - Ano 10 - Nelson Nobre Magalhães

“Aproveitando-se do clima otimista de patriotismo e civismo que reinava na cidade, em novembro de 1930, o getulista Cássio Tamborindeguy, que desenvolvia atividades ligadas ao comércio, lançou a idéia de que fosse criado o movimento “Em defesa de Pelotas”, devendo ele contar com a participação de vários setores da sociedade Pelotense. Para tanto, inicialmente, enviou correspondência com minuciosos relatórios sobre a situação econômica da cidade àqueles que organizavam e viabilizariam o movimento: o Rotary Club e a Associação Comercial de Pelotas, o intendente João Py Crespo e o secretário de Estado dos Negócios da Fazenda, o pelotense Francisco Antunes Maciel."
...

"Para impulsionar a cidade na retomada de seu desenvolvimento, algumas estratégias foram pensadas pelos integrantes da liga “Em Defesa de Pelotas”, suscitando certas medidas, tais como, construir uma estrada de ferro que fosse unir Pelotas a Santa Maria e outras ações de menor projeção, como reduzir a arrecadação tributária no porto de Pelotas, pois, segundo Amaral (2003, p.63), “os impostos cobrados vinham travando a circulação de mercadorias, paralisando o comércio e produzindo a depressão de outras fontes de renda”."
...
Sessão em 17 de dezembro de 1930 no Grande Hotel

"Outros fatores preocupavam às autoridades engajadas no movimento “Em Defesa de Pelotas” e recaiam sobre a precariedade das vias de comunicação e transporte o que impunha a necessidade da desobstrução de canais condutores ao porto, e a possibilidade de acesso de navios de maior tonelagem. Objeto de inquietação foram, além disso, a construção de rodovias com acesso à zona rural e medidas referentes à intervenção do município quanto à saúde pública devido aos altos índices de mortalidade infantil e outras enfermidades que acometiam os pelotenses, como a febre tifóide e a tuberculose. Quanto à infra-estrutura urbana e social, no tangente à higienização nas ruas, havia denúncias da sujeira, um grande flagelo, bem como a proliferação de cachorros pesteando o ambiente, provocando incidentes e doenças, e a mendicância, que poluía e desqualificava a idéia de progresso de uma urbe." 

Fonte: Futebol, memória e identidade operária: uma análise sobre a prática futebolística em Pelotas nas décadas de 1930 a 1960. ALINE NUNES DA CUNHA. Maio de 2008. Pelotas-RS 

Fonte fotos: Reprodução por de Arthur Victória do álbum "Rotary - Defesa de Pelotas - 1930".

Reminiscências do Calçadão de Pelotas - Década de 80

Dois registros lá do início do recém construído Calçadão, as imagens são do livro de Mário Rosa, Geografia de Pelotas - A economia, publicado em 1985. Com fotografia de Luis Carlos Netto e Luiz Carlos Vaz. Parece que tanto o público como os comerciantes já tinham aceitado o "Shopping a céu aberto" visto que no início do projeto o calçadão sofreu uma certa rejeição, principalmente por parte dos lojistas. 
Na primeira fotografia nota-se: Entre Floriano e Sete: Bromberg, Velocino Torres, Trilhotero, A gruta, Empório dos Tecidos, Favorita, Poupança Habitação. Em um segundo momento podemos observar entre Sete e Neto: Imcosul, Procópio, Marisa. Entre Neto e Voluntários: Lojas Mazza. Orelhões nos tradicionais acrílicos laranja, caixas de correios. Sem vários vendedores ambulantes e nem pessoas olhando para o celular.

Reprodução enviada por Margareth Vieira.


24 de mar. de 2016

"Pessoas que fizeram a diferença..." Empresário Clóvis Villar.


Empresário Clóvis Villar.

      Sr. Clóvis Villar, natural de Pelotas, foi comerciante de 1964 a 1993. Foi fundador e diretor das lojas Esporte Princesa e Capézio (Shopping calçadão).
Em 1964 começou com a Loja Elite na Rua Lobo da Costa que fazia sociedade com Carlos Silveira. Anos depois foi proprietário da Casa Norma, na Andrade Neves junto com seu amigo José Azário. Abriu individualmente a Loja Esportes Princesa, antes conhecida como Fábrica de Bolsas Princesa, que abastecia Rio Grande, Jaguarão e arredores da colônia. Quando faleceu em 1993, aos 59 anos, era diretor do Departamento de Apoio à Área Central do Clube de Diretores Lojistas de Pelotas (Daac/CDL), também diretor suplente do Sindilojas e integrava o quadro de sócios da Associação Comercial de Pelotas. Atuante e preocupado com a área central de Pelotas procurava realizar melhorias, e estava sempre em comunicação com outros comerciantes para tentar atender suas solicitações. Realizava várias campanhas, enquanto esteve a frente do Daac/CDL, uma delas em relação a segurança do centro, conservação e limpeza do calçadão. Foi o Sr. Clóvis que junto com o CDL, que viabilizou a colocação de lixeiras e alargamento das calçadas de Rua Marechal Floriano. 
     Em contato com Roberto Villar, neto do Sr. Clóvis, que nos forneceu informações, reportagem e algumas fotos que postaremos a seguir. Sendo assim, deixamos com este texto e fotos, uma singela homenagem ao Sr. Clóvis, que muito se preocupou com a nossa Pelotas e fez a diferença, estendemos esta homenagem a família e em especial a Sra. Terezinha Vieira Villar que sempre esteve ao seu lado no caminho que trilhou por aqui.


Sr.  Clóvis Villar nos anos 40, a esq. encima na foto, no Colégio Gonzaga.
Foto da Fábrica de Bolsas Princesa nos anos 70, que depois se chamou Esporte princesa.
Sr.  Clóvis Villar no seu casamento em 1957, com Terezinha Villar.
Homenagem oferecida ao Sr. Clóvis, 1993, do CDL pelo seu trabalho junto ao comércio.

Empresário Clóvis Villar.




Fonte:
Diario Popular,1993.
Roberto Villar, 2016.

Fotos do acervo da família Villar enviadas por Roberto Villar

1 de mar. de 2016

Na fila no início do século XX

Como seria uma sala de espera de atendimento gratuito no início do século XX em Pelotas? Mais precisamente na Faculdade de Odontologia? 
O jornal Opinião pública de 04 de novembro de 1916, nos mostra em uma reportagem sobre a Faculdade de Pharmacia e Odontologia, comentando que a clínica, totalmente gratuíta funcionava das 8h às 11h e das 13h às 17h, assim como o laboratório farmacêutico, ressaltava que a jornada permitia uma longa e perfeita aprendizagem aos seus alunos que eram sempre acompanhados, em revezamento, por seus vários professores. 

Com certeza os atendimentos deviam serem feitos dividindo homens e mulheres, onde nota-se que na foto só aparecem mulheres. Sabe- se que as crianças tinham atendimento separado em uma sala especial. 




Fonte: Jornal Opinião Pública de 04 de novembro de 1916"
Pesquisa:Maria Augusta Martiarena de Oliveira para o trabalho Instituições e práticas escolares como representações de modernidade em Pelotas (1910-1930): Imagens e imprensa em 2012.

29 de fev. de 2016

Desfile em frente a Catedral - 1969


Escola Sylvia Mello, apresentação em frente a Catedral São Francisco de Paula, Provavelmente década de 50.
Fotografia: Foto Studio; Fonte: MEMÓRIA FOTOGRÁFICA DE PELOTAS

14 de fev. de 2016

Revolta dos Bondes - Um fato sem precedentes nos anais de Pelotas - 1914


Bondes incendiados

Com a matéria intitulada “Bondes incendiados” as páginas do Jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, no mês de Dezembro de 1914, em plena primeira guerra mundial, noticiava que a companhia de Ferro Carril e Caes resolvera fazer greve suspendendo a circulação dos bondes. Antes disso Dr. Cipriano Corrêa Barcelos, o Intendente Municipal, como era chamado o prefeito, já havia mandado cortar alguns trilhos para que os bondes não pudessem circular, pois a empresa já não possuía a ordem para circular e a construção das linhas para os bondes elétricos pela empresa Light and Power já havia começado. A população encontrava- se dividida entre o atual e o novo tipo de transporte.
Exatamente em 14 de dezembro estudantes pelotenses, do lado da intendência, somado as insatisfações dos trabalhos oferecidos pela companhia, fizeram comício de protesto em praça pública, no qual promoveram o “enterro” do diretor da companhia Ferro Carril (Sr. José Máximo Corrêa de Sá) com direito a bateção de latas, apitos e fogos de artifícios. Findo o protesto, uma multidão em torno de 1.500 pessoas atacaram o depósito dos Bondes da Ferro Carril, sendo recebidos a tiros pelos guardas da companhia. Os depósitos tiveram seus portões arrombados e invadidos, de onde foram tirados e conduzidos “a pulso” pelas ruas da cidade sendo depredados e incendiados.

“A Estação foi invadida e tudo que se encontrava lá dentro foi destruído, soltaram os muares das cocheiras e destruíram os utensílios ali encontrados, retiraram do local vinte e sete bondes que foram espalhados pela cidade, e posteriormente quebrados e queimados, quatro destes foram jogados em chamas para dentro do arroio Santa Bárbara, nas proximidades da empresa. Enquanto um grupo de populares encarregava-se da estação dos bondes, na Praça da Constituição, o escritório central também foi apedrejado, por outro grupo que continuava a baderna, destruindo tudo que encontrava pela frente. O corpo de bombeiros foi acionado para combater os diversos pontos de incêndio nos bondes, pessoas foram atingidas por balas de revolver, várias casas foram apedrejadas. Todo este alvoroço e vandalismo pararam somente em torno de três horas da madrugada, quando um grupo de guardas da policia conseguiu conter a população .” (WITTMANN, 2006)

Bondes de tração animal em frente a então Praça Pedro II.Acervos: CDOV-Biblioteca Pública Pelotense e Eduardo Arriada – A.F. Monquelat

Curiosidades:

“Os bondes em Pelotas por tração animal foram inaugurados em  Novembro de 1873.”
“Princesa Isabel em visita a Pelotas, em 1885, passeou com seus dois filhos em um bondinho puxado a burros. Como em todo o lugar por onde andava a nobre senhora, faziam-se manifestações de simpatia e às vezes um tanto exageradas. Os pelotenses, dados a homenagens, não fizeram diferente. Ornamentaram o bondinho com flores para os reais passageiros que os levaria ao parque Sousa Soares, o primeiro centro turístico do Rio Grande do Sul.(Viva o Charque - Zênia de León).

Fig. 2 Bonde elétrico na atual Av. Duque de Caxias.
Fontes:
Coleção do Arquivo Histórico de Porto Alegre.

Blog conselheiro X. Pelotas. Disponível em http://conselheirox.blogspot.com.br/ Acesso em fevereiro de 2016.

LEÓN, Zênia de. Os bondes em pelotas - A novidade no Rio Grande do Sul. Pelotas, 2012. Disponível em <http://www.vivaocharque.com.br/interativo/artigo22.php> Acesso em fevereiro de 2016.

WITTMANN, Maria Cristina Gonçalves. Trilhos Urbanos. Pelotas, 2006. Disponível em <http://wp.ufpel.edu.br/especializacaoemartesvisuais/files/2013/12/Maria-Cristina-Gon%C3%A7alves-Wittmann-%E2%80%93-2005.pdf>. Acesso em fevereiro de 2016.

9 de fev. de 2016

O Jacaré do Fragata por Elisabete Porto de Oliveira

Em final de meados do século XX, aproximadamente, surgiu no Fragata o grupo carnavalesco conhecido como Jacaré do Fragata. O grupo era formado por pessoas da comunidade que se divertiam fantasiando-se e saindo pelas ruas do bairro e conseqüentemente pelas ruas no centro da cidade. No início os carros alegóricos eram movidos por tração animal, depois passou a ser puxados por tratores de propriedades do Sr. José de Souza Soares, o qual, cedeu para a realização do evento. O Jacaré do Fragata atraía o público por onde passava. Era um grupo bem organizado e muito animado, disposto a exibir seu carnaval com tanta exuberância e graça.

Desfile do grupo Jacaré do Fragata, década de 60 do século XX. Fonte: Projeto Pelotas Memória

Segundo Nelson Nobre (2.000, p. 08, 09) faziam parte desse grupo carnavalesco Camelinho, Jaguaré, Odilon Garcia, Gilda Nunes e sua irmã, também a rainha Zilá Matos e a sua corte. As informações sobre os componentes e composição musical do grupo Jacaré do Fragata foram limitadas, por falta de fontes disponíveis ou, desconhecidas até o presente momento. O trabalho realizado pelo grupo foi o resultado de um belo e empolgante desfile.

Desfile do grupo Jacaré pelas ruas do centro de Pelotas, anos 60 do século XX. Fonte: Projeto Pelotas Memória.

O Jacaré do Fragata foi o primeiro grupo burlesco que surgiu no bairro. Os componentes do grupo desfilavam pelas ruas ao som da música executada pelos mesmos. Conforme o artigo do Sr. Bendjouya, publicado no Jornal Diário Popular do dia 24 de Fevereiro de 2001, o qual descreve sobre as curiosidades do carnaval de rua de Pelotas, o mesmo relata que existiram alguns blocos que desfilavam sem nenhuma verba pela rua 15 de novembro, na época a rua era mão dupla, depois passou a ser mão única. Os desfiles aconteceram na por volta da década de 30 do século XX. Alguns anos mais tarde foram surgindo outros blocos carnavalescos pela cidade com denominações de animais, representação de bichos como a Girafa da Cerquinha; o Camelo; o Galo; o Papagaio; o Tigre; o Jacaré do Fragata, este, como comenta o Sr. Isaac, “tinha uma história muito interessante ligada à política pelotense”. O grupo Jacaré fazia suas apresentações, tanto no bairro Fragata como no centro da cidade. Alguns moradores ainda recordam de alguns trechos da cantiga do grupo Jacaré, que desfilava pelas ruas como veremos a seguir:

Quem é que disse, 
E não acreditava, 
Que saísse o Jacaré [...] 
Veio pra avenida lá do lago a pé, 
Mostrar pra cidade, 
Toda sua vaidade, 
Que é o Jacaré.*

O grupo burlesco Jacaré durou poucos anos, o mesmo acabou encerrando sua atividade carnavalesca e deixando muita saudade nas pessoas que o admirava. Com o tempo foram surgindo outros grupos burlescos; escolas de samba com belos desfiles como a escola de samba Imperadores da Guabiroba e Unidos do Fragata. 

Por falar em grupos carnavalescos, com o qual a população se divertia, vale a pena lembrar que no século XX, final da década 50 aproximadamente, a população do bairro freqüentava o cinema, era o Cine Fragata, o qual apresentava bons filmes, principalmente do cantor gaúcho Teixeirinha, o cinema ficava lotado como recorda alguns moradores, tinha que ter muita paciência, pois a fila era enorme. O Cine Fragata também apresentava shows, como o do cantor Cauby Peixoto, o qual atraía multidão para o local. O local também passou a ser utilizado pelas escolas que faziam apresentações de seus alunos e professores, eram usados também para outros fins. O Cine Fragata encerrou suas atividades aproximadamente, entre o final da década de 70 e inicio dos anos 80. O prédio foi reformado e hoje funciona no local um salão de baile (kazão).

 *Trechos fornecidos por algumas pessoas que recordaram uma parte da letra da canção do grupo, como a senhora Irai, o senhor Antonio Luis e dona Flora,. Maio de 2007.


Elisabete Porto de Oliveira em Viagem na memória do Fragata: Estudo sobre a história e cultura de um “Bairro Cidade”. Pelotas, 2007.


Página 8 do fascículo Pelotas Memória especial sobre os carnavais do passado (2000) de Nelson Nobre.


3 de fev. de 2016

Pedro Fickel lança: "O Mundo de Manoela Amalia - A Noiva Gaúcha de Garibaldi"

O Prof. Pedro Luiz Brum Fickel, natural de Pelotas, Rio Grande do Sul, é bacharel em Letras pela Universidade Federal de Pelotas e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas (IHGPEL) desde o ano de 2009, data que coincide com o início de sua extensa pesquisa biográfica e genealógica sobre MANOELA AMALIA FERREIRA, a “Noiva de Garibaldi”, e que culmina com a publicação deste livro. Segundo ele, a história da vida e de sublimação de um grande amor, que foi levada por Manoela até as últimas consequências, engrandece sobremaneira o ato de amar. Nessa história, a realidade por vezes ultrapassa a mais fértil ficção e nos fascina a cada momento, a cada nova descoberta. A história épica de um amor impossível, mas mesmo assim incorruptível, vivida por Manoela e Garibaldi em tempos da Revolução Farroupilha, ainda ecoa nos dias de hoje a nos dizer: é somente no amor, e através dele, que o ser humano encontrará suas derradeiras respostas.
Manoela, a pelotense que seria eternizada como a noiva de Garibaldi, nasceu em 08 de julho de 1820, e foi batizada em 24 de agosto do mesmo ano, na Matriz de São Francisco de Paula.
O autor Prof. Pedro Luiz Brum Fickel estará lançando seu livro dia 11 de Fevereiro, às 19:30h na Biblioteca Pública Pelotense.




Sinopse
O Rio Grande do Sul e o Brasil há muito têm ouvido falar de um romance épico, em tempos da Revolução Farroupilha, entre o corsário italiano Giuseppe Garibaldi e a bela Manoela Amalia Ferreira. Manoela e Garibaldi apaixonaram-se perdidamente, a ponto do futuro “herói de dois mundos” pedi-la em casamento somente alguns meses após seu primeiro encontro. Os pais de Manoela, entretanto, iriam impedir essa união, sob o pretexto de que ela estaria prometida a um dos filhos do Gen. Bento Gonçalves da Silva, líder das forças republicanas.
Apesar do impedimento, Garibaldi jamais esqueceria Manoela. Em suas “Memórias”, ele mencionaria o “culto divinizante” que nutrira pela gaúcha de seus sonhos. Manoela, por sua vez, optaria por manter a chama de seu grande amor eternamente acesa. E assim o fez, por toda a sua vida. Morreu solteira, no início de 1903, na cidade de Pelotas, sua terra natal, onde era conhecida como “a noiva de Garibaldi”. Respeitada por sua opção enquanto vivia, após a morte Manoela atingiria o status de verdadeira heroína no imaginário popular gaúcho. Porém, decorrido mais de um século de sua morte, e apesar de seu grande apelo, a personagem real ainda se encontrava envolvida pelo manto do desconhecimento. Esta biografia de Manoela Amalia objetiva fazer um resgate histórico há muito devido, não só através da reconstrução dos mais variados aspectos de sua vida no contexto do século XIX, como também do resgate dessa comovente história de sublimação de um grande amor, onde realidade e ficção muitas vezes se confundem ou tomam sentidos opostos. A história de um amor impossível vivida por Garibaldi e Manoela ainda ecoa nos dias de hoje, e nos revela que é somente através do amor que o ser humano encontrará as derradeiras respostas para seu conflito existencial.
Fonte: https://www.chiadoeditora.com

3 de jan. de 2016

Aldo Daniele Locatelli




     Aldo Locatelli nasceu em Bérgamo, no norte da Itália no ano de 1915. Nasceu em uma família humilde mas que tinha como valor básico o estudo e como meta a boa formação dos filhos. Desde os dez anos de idade o menino manifestou interesse pela pintura, a partir do contato com restauradores que trabalhavam recuperando obras na igreja local.
   Em 1931 fez um curso de decoração no CursoLivre de Instrução Técnica, ligado à Indústria Andrea Fantoni. Ali teve aulas com o pintor Francesco Domenighini, que lhe proporcionou pela primeira vez contato com obras de grandes mestres da pintura renascentista. Um ano depois foi admitido na Accademia Carrara, de Bergamo, célebre instituição de ensino superior de arte, sendo introduzido no método e filosofia acadêmicos e tendo contato com Conrado Barbieri, diretor da instituição, cujas ideias fascistas teriam influenciado o artista. Nesta época teria produzido muitos estudos de retrato, paisagem e natureza-morta, num estilo ainda incerto e tendendo à estilização. Mas já então seu trabalho se destacava pela sua habilidade em construir cenas complexas e dramáticas.
     Premiado em 1937 com uma bolsa de estudos para aperfeiçoar-se na Escola de Belas Artes de Roma, aprofundou seus estudos sobre a arte da Roma Antiga e da Renascença, cristalizando uma filiação estética que seguiu por toda a vida.
Entre 1943 e 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou em sua primeira obra na Catedral de Gênova. Suas obras religiosas estão no Santuário de Mulatiera, Paróquia de Santa Croce, Convento das Irmãs S.S.Consolatrice, em Milão, Catedral de Gênova, cúpula da igreja Nossa Senhora dos Remédios, Santuário Nossa Senhora da Pompéia, Colégio da Consolata, em Milão entre outros.
    Em 1948 viajou para o Brasil, a convite de Dom Antônio Zattera, bispo de Pelotas, no Rio Grande do Sul, para pintar a Catedral São Francisco de Paula. A cidade lutava contra o declínio econômico e cultural, após ter sido conhecida no fim do século XIX até o início do século XX como "a Atenas do Rio Grande" e ter então dominado a indústria do charque, uma das maiores fontes de renda estadual na época. Neste ciclo Pelotas havia produzido um grande pintor, Leopoldo Gotuzzo, que entretanto se mudara ainda jovem para Roma a estudo e depois se fixara no Rio de Janeiro, o centro da vida cultural brasileira. Seu nome permaneceu, porém, lembrado na cidade, e seu sucesso orgulhava os pelotenses.
    Locatelli passou a a lecionar na Escola de Belas Artes em Pelotas no final da década de 1940. Organizando exposições de trabalhos de alunos e de sua própria autoria. A contribuição de Locatelli a Escola teve uma importância fundamental para consolidar e modernizar o sistema de artes na cidade, embora novamente tenha enfrentado muitas adversidades por escassez crônica de recursos.
    Permaneceu no Brasil, com sua esposa Mercedes Bianchieri, acompanhando-o desde seus trabalhos na Itália, e com ela teve dois filhos.
Em 1950 firmou contrato para a decoração da Igreja de São Pelegrino, em Caxias do Sul, e logo sua fama chegou à capital, Porto Alegre, vencendo em 1951 uma concorrência do Governo do Estado para executar um ciclo de painéis no Palácio Piratini.
    O Rio Grande do Sul, circunstancialmente, atravessava um período de crise e se buscavam símbolos identitários que pudessem mobilizar a população e acender seu civismo. Não surpreende que o tema desse ciclo, instalado na sede do poder político estadual, tenha sido a formação histórica e étnica do povo riograndense, tratado com forte carga emocional e monumentalidade e centrando a atenção nas Missões Jesuíticas, nos Bandeirantes, na criação de gado e no gaúcho, no folclore nativo, na família como unidade social básica, na aventura da colonização e na agricultura.
   Em Porto Alegre, Locatelli foi solicitado para pintar o grande mural do Aeroporto Salgado Filho, o painel central da Catedral Metropolitana, o mural da UFGRS, o mural da sala dos músicos no Instituto de Belas Artes do Estado do Rio Grande do Sul onde foi convidado a lecionar. Em 1954 naturaliza-se brasileiro.
   Faleceu em 1962 em Porto Alegre aos 47 anos, vitimado pela inalação continuada dos produtos químicos provenientes das tintas que utilizava. A contribuição de Aldo Locatelli para a pintura no Rio Grande do Sul foi de grande importância, tanto como professor quanto como criador. Assim que chegou ao Brasil sua obra exerceu impacto positivo e foi reconhecido como um mestre.



Detalhe de autorretrato de Aldo Locatelli (1945)
Algumas de suas obras no Brasil:
1949 - Catedral de São Francisco de Paula - Pelotas
1950 - Mural ‘A Conquista do Espaço’, Aeroporto de Porto Alegre
1951 - Igreja de São Pelegrino, Caxias do Sul
1952 - Igreja Santa Terezinha do Menino Jesus, Porto Alegre
1954 - ‘Do Itálico Berço à Nova Pátria Brasileira’, Caxias do Sul
1957 - Painel Central da Catedral Metropolitana, Porto Alegre
1958 - ‘As Profissões’ / UFRGS
1960 - Painel para Federação das Indústrias do RGS, Porto Alegre
Série de pinturas sobre a Virgem Maria / Catedral de Santa Maria-RS
Fonte: Projeto Memória Pelotas

21 de dez. de 2015

Feliz Natal - Papai Noel das Lojas Mazza Déc. 40

A todos que acompanham o Projeto Pretérita Urbe e este blog um Feliz Natal. Na foto o inesquecível [para quem conheceu] Papai Noel das Lojas Mazza registrado pelo fotografo Ramão Barros, na década de 40 

Foto de Marcelo Soares coletada na internet.



19 de dez. de 2015

QUE FIM LEVOU O “BULE”?


      Pelas fotos que chegaram até nós hoje, podemos conhecer como foi esse comércio, pelo menos sua fachada e o tal monstro. Até o momento não se tem conhecimento de algum registro da parte interna do comércio, inclusive podemos encontrar publicidades nos Simonianos “Almanach's de Pelotas” do início do século. O bule foi trazido da França, feito em madeira de lei, caixilhos de chumbo e vidros bisotê coloridos e sua luz era artificial e vinha de seu interior. Ao término do comércio foi vendido a uma casa que trabalhava com metais e antiguidades, na Rua Santa Tecla, cujo dono era o Sr. Argeu Fabres. O resto eu deixo o Sr. Eduardo Duarte Bernardes, filho do Sr. Álvaro Gaspar Bernardes, herdeiro do “Bule Monstro”, poderíamos dizer assim, explicar com suas próprias palavras:

        - Infelizmente meu primo, Luiz Carlos Ferreira Bernardes de Porto Alegre, comprou o bule do Sr. Argeu Fabres e teve a infeliz ideia de levar para capital, estava ele reformando sua casa, ai houve uma fatalidade......desabou o forro da peça onde estava o bule e o destruiu, não tendo mais recuperação, uma grande perda para nossa família e memória de Pelotas. Hoje “ele” estaria exposto na sala da minha casa, com muito orgulho de 03 gerações terem trabalhado no bule monstro.1 
1. Depoimento em entrevista por e-mail de Eduardo Duarte Bernardesem 29 mar. 2015



11 de dez. de 2015

Queremos escutar as suas histórias!

Se você nasceu entre 1977 e 1983 e viveu a maior parte da infância na cidade de Pelotas, queremos escutar as suas histórias! 
Para participar, basta preencher esse formulário:http://goo.gl/forms/k0vtxyPIrr
Em breve entraremos em contato. 
Um projeto de Karla Nazareth
Apoio Pretérita Urbe - Pelotas/RS




24 de nov. de 2015

6 de nov. de 2015

Joaquim da Costa Fonseca Filho, o "Louco do chapéu azul" da canção de Vitor Ramil

Joaquim Fonseca em viajem ao Rio de Janeiro
Filho de português e de brasileira, com estudo formal apenas até a 5ª série do primário, o mecânico JOAQUIM DA COSTA FONSECA FILHO tinha um sonho: voar. Mas não seria um voo qualquer – tinha que ser em um avião feito por ele. Nascido em 1909 em Pelotas, no interior do Rio Grande do Sul, o jovem gaúcho – que era autodidata – aprendeu mecânica e construção aeronáutica. Embora pouco conhecido, tornou-se um dos mais inventivos pioneiros na aviação civil brasileira.
Aos 17 anos fez sua primeira experiência em mecânica. Sua família inaugurava uma linha de transporte coletivo em automóveis no sul do estado. Na intenção de elevar os lucros da pequena frota de Ford modelo T, Joaquim fez uma intervenção: aumentou o chassi de um dos carros, tornando-o maior, mais lucrativo, e a grande sensação daqueles dias.

Oficina Fonseca, na rua Santa Cruz.
A novidade vinha acompanhada de outra atividade a que Joaquim Fonseca dedicava tempo e dinheiro: as corridas de automóveis. Após vencer várias competições, tornou-se conhecido como desportista, o que também era raro naquela pequena cidade, já que a maioria das pessoas se ocupava da agricultura e da pecuária. É desse período a construção da Magestoza, lancha com motor dianteiro, como dizia ser o correto. Nessa embarcação, Joaquim velejava pelas praias da Lagoa dos Patos, as mesmas que mais tarde sobrevoaria em dois aviões fabricados por ele próprio.

Interior da Oficina Fonseca, na rua Santa Cruz.

A Magestoza em São Lourenço do Sul. Década de 40.
Na época do alistamento militar, ingressou na Escola de Aviação Militar, no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro, onde assistia a aulas de engenharia como aluno ouvinte, treinando na prática enquanto trabalhava nas oficinas da escola. De volta a Pelotas, criou a Oficina Mecânica Fonseca, e em 1935, durante uma viagem pelo sul do estado, conheceu Elda, com quem se casou e teve três filhos. Já familiarizado com a aviação, ele participou da fundação do Aeroclube de Pelotas, e logo obteve o brevê. Já era possível voar.
Dali até meados da década de 1940, Joaquim foi um dos três pilotos formados no Rio Grande do Sul. Ele alimentava um sonho que estava prestes a ser realizado: a criação da Sociedade Industrial de Aviões Pelotense. A iniciativa não demorou a ganhar força, e surgiram os primeiros esboços da máquina que seria o grande projeto do construtor.

Construção do segundo avião, o F2, também conhecido como "Cidade de Pelotas", nos porões de sua casa na Gonçalves Chaves, onde também foi a Rodoviária de Pelotas
Foi no porão de sua casa que Joaquim trabalhou sozinho durante os fins de semana, em segredo, por três anos, para construir seu primeiro avião. O aparelho tinha motor de automóvel, e no trem de pouso, pneus de motocicleta. Era feito de madeira e algodão envernizado. Em 1939, sua criação veio a público: os jornais locais estampavam manchetes sobre o primeiro voo do F.1, o avião de Joaquim. A notícia era veiculada junto com outra novidade de peso: os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. Essa estreia durou vinte minutos, a uma altura de 300 metros, sobre o Aeroporto Municipal, a 100 quilômetros por hora. Por motivo de segurança e devido à simplicidade dos instrumentos, eram voos baixos e solitários, que margeavam a praia do Laranjal. Na época, a maioria dos pilotos não utilizava instrumentos, sendo guiados pelo que podiam enxergar.
Após mais de 30 horas fora do chão, Joaquim considerou esse aeroplano pesado demais e o desmanchou. Sabe-se que já havia no centro do país algumas fábricas de aviões, mas não há notícia sobre modelos que tenham voado com motores de automóveis no Brasil, ainda que fosse um sistema já utilizado na Europa. Esta é uma das facetas que tornam peculiar o trabalho de Joaquim Fonseca.

Joaquim Fonseca no ato da recepção no Rio de Janeiro pelo então ministro da Aeronáutica Salgado Filho, a qual, no dia seguinte e após vários testes, homologou o "Cidade de Pelotas". Foto Diário Popular, 1943
Quando ficou pronto o segundo aparelho, o F.2, Joaquim já integrava a diretoria do Aeroclube de Pelotas como diretor técnico. Em 1942, o então desconhecido construtor quis mostrar seu novo aparelho em Porto Alegre. Joaquim e o presidente do Aeroclube de Pelotas chegaram à capital do estado exibindo o invento – a bordo do F.2. O avião foi testado pela primeira vez com o objetivo de seguir até o Rio de Janeiro, onde deveria ser exibido para a Aeronáutica. A aeronave era destinada a treinamento e turismo, de construção mista de aço e madeira, com dois lugares e com duplo comando, media 10,5m de envergadura e 6,68m de comprimento, pesando 320 quilos, com autonomia de voo de cinco horas e velocidade de 135 quilômetros por hora, atingindo teto de 3.800 metros. Além dessas diferenças em relação ao primeiro protótipo, tinha motor aéreo, do tipo Franklin – o grande motor americano da época, feito para aviões –, e rodas de avião. Nada parecia mais promissor. Jornais de circulação nacional passaram a noticiar as vantagens do novo aparelho. Dizia-se que Salgado Filho (1888-1950), ministro da Aeronáutica e também rio-grandense, poderia aproveitar Joaquim no novo ministério.
O inventor finalmente voou com o F.2, em 1943, para o Rio de Janeiro, onde foi recebido pelo ministro Salgado Filho. No Campo dos Afonsos, o aparelho foi testado durante uma semana por técnicos da Aeronáutica, que o aprovaram. Joaquim voltou para casa, acompanhado da mulher, pilotando o recém-batizado Cidade de Pelotas. No ano seguinte, foi outra vez ao Rio com o F.2. Motivado pela boa repercussão dos acontecimentos, declarou à imprensa que os projetos e cálculos da futura aeronave, de qualidade técnica superior ao modelo aprovado, já tramitavam no Ministério da Aeronáutica. No entanto, ele recebeu uma resposta negativa: a homologação do novo protótipo, o F.3, foi negada e, para piorar, ele também não conseguiu obter a licença e o financiamento para a instalação da Sociedade Industrial de Aviões Pelotense.
O ministério alegou que os materiais usados eram de baixa qualidade. Consta que Joaquim teria respondido: “Índio não tem que construir avião. Tem que comprar!”. A turbulência causada pela Segunda Guerra e a política de desenvolvimento aeronáutico dependente do modelo norte-americano, adotada pelo governo Vargas, selaram o destino do aviador.
Apesar das adversidades, Joaquim continuou com seu trabalho autônomo, não acadêmico, solitário e inventivo. Ampliou a oficina mecânica que, ironicamente, passou a consertar também aviões. No início da década de 1950, após visitar fábricas de carros nos Estados Unidos, consolidou-se como industrial do ramo de autopeças. Abriu duas lojas em Porto Alegre e uma em Pelotas para vender sua produção. No Brasil do pós-guerra, respiravam-se finalmente os ares da democracia com a eleição de Juscelino Kubitschek (1902-1976). Mas aviões genuinamente brasileiros só apareceriam bem mais tarde, por volta de 1969, um ano depois da morte de Joaquim.

Texto Sérgio Luiz Peres de Peres para revista de história em 1.8.2011, título original "O faz-tudo voador"
Sérgio Luiz Peres de Peresé professor da rede pública no Rio Grande do Sul e autor da dissertação “Uma história de invenções: memória, narrativa e biografia em Joaquim Fonseca” (UFPel, 2009).
Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/retrato/o-faz-tudo-voador
Fonte das fotos: www.flickr.com/photos/joquim/232475401/in/photostream/aaahttpsa//www.flickr.com/photos/joquim/232475401/in/photostream/:::www.flickr.com/photos/joquim/232475401/in/photostream/:::https://www.flickr.com/photos/joquim/232475401/in/photostream/

Fotos: https://www.facebook.com/media/set/?set=a.1072467192766286.1073741855.472472029432475&type=1
Canção de Vitor Ramil adaptada a história de Joaquim Fonseca



Letra
Joquim (Vitor Ramil)


Satolep
Noite
No meio de uma guerra civil
O luar na janela
Não deixava a baronesa dormir
A voz da voz de Caruso
Ecoava no teatro vazio
Aqui nessa hora é que ele nasceu
Segundo o que contaram pra mim

Joquim era o mais novo
Antes dele havia seis irmãos
Cresceu o filho bizarro
Com o bizarro dom da invenção
Louco, Joquim louco
O louco do chapéu azul
Todos falavam e todos sabiam
Quando o cara aprontava mais uma

Joquim, Joquim
Nau da loucura no mar das idéias
Joquim, Joquim
Quem eram esses canalhas
Que vieram acabar contigo?

Muito cedo
Ele foi expulso de alguns colégios
E jurou: "Nessa lama eu não me afundo mais"
Reformou uma pequena oficina
Com a grana que ganhara
Vendendo velhas invenções
Levou pra lá seus livros, seus projetos
Sua cama e muitas roupas de lã
Sempre com frio, fazia de tudo
Pra matar esse inimigo invisível

A vida ia veloz nessa casa
No fim do fundo da América do Sul
O gênio e suas máquinas incríveis
Que nem mesmo Julio Verne sonhou
Os olhos do jovem profeta
Vendo coisas que só ontem fui ver
Uma eterna inquietude e virtuosa revolta
Conduziam o libertário

Dezembro de 1937
Uma noite antes de sair
Chamou a mulher e os filhos e disse:
"Se eu sumir procurem logo por mim"
E não sei bem onde foi
Só sei que teria gritado
A uma pequena multidão
"Ao porco tirano e sua lei hedionda
Nosso cuspe e o nosso desprezo!"

Joquim, Joquim
Nau da loucura no mar das idéias
Joquim, Joquim
Quem eram esses canalhas
Que vieram acabar contigo?

No meio da madrugada, sozinho
Ele foi preso por homens estranhos
Embarcaram num navio escuro
E de manhã foram pra capital
Uns dias mais tarde, cansado e com frio
Joquim queria saber onde estava
E num ar de cigarros
De uns lábios de cobra, ele ouviu:
"Estás onde vais morrer"

Jogado numa cela obscura
Entre o começo do inferno e o fim do céu
Foi assim que depois de muitas histórias
A mulher enfim o encontrou
E ele ainda ficou ali por mais dois anos
Sempre um homem livre apesar da escravidão
As grades, o frio, mas novos projetos
Entre eles um avião

O mundo ardia na guerra
Quando Joquim louco saiu da prisão
Os guardas queimaram
Os projetos e os livros
E ele apenas riu, e se foi
Em Satolep alternou o trabalho
Com longas horas sob o sol
Num quarto de vidro no terraço da casa
Lendo Artaud, Rimbaud, Breton

Joquim, Joquim
Nau da loucura no mar das idéias
Joquim, Joquim
Quem eram esses canalhas
Que vieram acabar contigo?

No início dos anos 50
Ele sobrevoava o Laranjal
Num avião construido apenas das lembranças
Do que escrevera na prisão
E decidido a fazer outros, outros e outros
Joquim foi ao Rio de Janeiro
Aos orgãos certos,
Os competentes de coisa nenhuma
Tirar um licença

O sujeito lá
Responsável por essas coisas, lhe disse:
"Está tudo certo, tudo muito bem
O avião é surpreendente, eu já vi
Mas a licença não depende só de mim"
E a coisa assim ficou por vários meses
O grande tolo lambendo o mofo das gravatas
Na luz esquecida das salas de espera
O louco e seu chapéu

Um dia
Alguém lhe mandou um bilhete decisivo
E, claro, não assinou embaixo
"Desiste", estava escrito
"Muitos outros já tentaram
E deram com os burros n'água
É muito dinheiro, muita pressão
Nem Deus conseguiria"
E o louco cansado o gênio humilhado
Voou de volta pra casa

Joquim, Joquim
Nau da loucura no mar das idéias
Joquim, Joquim
Quem eram esses canalhas
Que vieram acabar contigo?


No final de longa crise depressiva
Ele raspou completamente a cabeça
E voltou à velha forma
Com a força triplicada
Por tudo o que passou
Louco, Joquim louco
O louco do chapéu azul
Todos falavam e todos sabiam
Que o cara não se entregava

Deflagrou uma furiosa campanha
De denúncias e protestos
Contra os poderosos
Jogou livros e panfletos do avião
Foi implacável em discursos notáveis
Uma noite incendiaram sua casa
E lhe deram quatro tiros
Do meio da rua ele viu as balas
Chegando lentamente

Os assassinos fugiram num carro
Que como eles nunca se encontrou
Joquim cambaleou ferido alguns instantes
E acabou caído no meio-fio
Ao amigo que veio ajudá-lo, falou:
"Me dê apenas mais um tiro por favor
Olha pra mim, não há nada mais triste
Que um homem morrendo de frio"

Joquim, Joquim
Nau da loucura no mar das idéias
Joquim, Joquim
Quem eram esses canalhas
Que vieram acabar contigo?


Desenho de Danilo Zasimowicz, baseado no avião F-2, construído por Joaquim Fonseca em Pelotas-RS - Acrílico sobre tela.