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1 de out. de 2018

Discurso de Getúlio Vargas em Pelotas 1943


Getúlio Vargas acena para o público em frente ao paço municipal. Foto do Arquivo Nacional, 1943.

Grande público se aglomera em frente ao paço municipal para ver o presidente Getúlio Vargas.
Foto do Arquivo Nacional, 1943.

Em outubro de 1943 Getúlio Vargas esteve de passagem por Pelotas e região para inaugurar a Escola Técnica, linha ferroviária, que ligaria Pelotas ao oeste do Rio Grande e também para anunciar a construção da barragem do Rio Camaquã. 
Numa segunda -feira, dia 11 de outubro foi a inauguração da ETP e no dia 12 de outubro o então presidente esteve em frente ao paço municipal (fotos acima). 
Abaixo conseguimos o discurso que foi feito na Associação Comercial, no mesmo dia, leia na integra abaixo:

O espírito progressista das classes conservadoras de Pelotas 

(improviso agradecendo a grande manifestação de apreço das classes conservadoras de Pelotas, na associação comercial da cidade, a 12 de outubro de 1943)

A manifestação de apreço das classes conservadoras de Pelotas e a saudação do representante da Associação Comercial — Reconhecimento dos serviços prestados pelo Governo Nacional — Significação das manifestações espontâneas do povo pelotense — O desenvolvimento da pecuária — Conseqüências da transformação do país de produtor de matérias primas em industrializador dos seus recursos naturais — A inauguração da Escola Técnica e a linha ferroviária que ligará Pelotas ao oeste do Rio Grande — A construção da barragem do rio Camaquam grande empreendimento destinado a produzir força hidráulica e energia barata — A política do Governo Nacional não admite luta de classes e procura assegurar o equilíbrio e colaboração de todas — Nova mentalidade das classes conservadoras transformadas em elementos de cooperação governamental — Assistência e amparo econômico do trabalhador.


SENHORES

A manifestação das classes conservadoras de Pelotas constitui mais um motivo de íntimo contentamento entre os muitos que venho recolhendo no decorrer desta minha agradável viagem pelo Rio Grande do Sul. Mostra o calor e a sinceridade de sentimentos de uma gente habituada a exteriorizar sem temor o que pensa e o que sente. Fala-me, por isso mesmo, diretamente ao coração e recebo-a desvanecido e confortado. O digno intérprete da Associação Comercial de Pelotas acaba de referir lealmente os serviços prestados pelo meu Governo à terra pelotense. Não foram numerosos por certo, nem tão extraordinários me parecem diante do muito que desejaria fazer pelo progresso e bem estar de todos os meus conterrâneos. Na vida do homem público que se orienta num sentido reto e justo há sempre momentos que compensam os sacrifícios e as incompreensões, e esses momentos ele os encontra ocasionalmente na espontaneidade das expansões populares. É o que me aconteceu ao entrar em contacto com o nobre e valoroso povo pelotense. Pelotas não é só uma das mais encantadoras cidades do Rio Grande. É também um rico e ativo núcleo de trabalho. A pecuária preponderou durante muito tempo no conjunto das suas atividades produtoras. Lançou-se depois aos empreendimentos industriais e neles começa a aplicar reservas apreciáveis e capacidades comprovadas. É ainda sob esse aspecto um núcleo de trabalho promissor, procurando antecipar-se à rápida transformação que se opera na vida econômica do país, que de mero produtor de matérias primas passa a industrializador dos próprios recursos naturais. A compreensão inteligente dessa mudança em nossos processos de produção ressalta do interesse despertado pela inauguração da Escola Técnica destinada a formar auxiliares para a indústria da região. A circunstância excepcional de possuir um porto de fácil acesso à navegação marítima, servido por ligações ferroviárias que se completarão com a linha que ligará Pelotas ao oeste do Rio Grande, é mais um fator favorável a influir decisivamente no desenvolvimento das suas atividades manufatureiras. Mas há mais ainda a registrar sobre as possibilidades do progresso pelotense. Aproveitando a oportunidade quero dar-vos, nesse sentido, uma auspiciosa notícia. Entre os empreendimentos que o Governo Federal vai iniciar em breve, com o fim de criar para o Rio Grande do Sul mais amplas e seguras condições de desenvolvimento econômico, figura precisamente a construção da barragem do Rio Camaquam, que virá proporcionar a Pelotas, Rio Grande e Bagé, força hidráulica e portanto energia barata. Pelotas está assim fadada a ser um dos maiores empórios industriais do sul do Estado.
A riqueza é sempre produto do esforço humano e os homens aqui sabem esforçar-se para conquistá-la. Devem, porém, lembrar-se que não há coletividade rica onde a fortuna se concentra nas mãos de poucos. As classes menos favorecidas precisam usufruir igualmente os "bens da civilização, que só ficam ao seu alcance quando dispõem de recursos para adquiri-los. A política do Governo Nacional não admite a luta de classes, nem o predomínio de umas sobre outras. Procura estabelecer e assegurar o equilíbrio e a colaboração de todas para o bem geral. Felizmente, as classes conservadoras, transformadas hoje em elementos de cooperação governamental, já não têm a mentalidade das épocas passadas e se orientam no sentido de proporcionar amparo e segurança econômica ao trabalhador. Encerrando estas rápidas considerações, que me parecem de todo oportunas, renovo os meus agradecimentos pelas homenagens que me são prestadas com tão confortadoras disposições de confiança e solidariedade.


Fonte:
Presidência da República
Casa Civil
Secretaria de Administração
Diretoria de Gestão de Pessoas
Coordenação – Geral de Documentação e Informação
Coordenação de Biblioteca

Acesso: http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/presidencia/ex-presidentes/getulio-vargas/discursos/1943/15.pdf/view



Fonte foto Arquivo Nacional
BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PRP_00585_d0018de0022
BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PRP_00585_d0011de0022

Acesso: http://sian.an.gov.br/sianex/Consulta/Pesquisa_Livre_Painel_Resultado.asp?v_CodReferencia_id=1314963&v_aba=1

5 de dez. de 2017

O Bazar da Moda (Dec. 30) de Raphael Mazza

Foto da década de 30, encontrada a venda no mercado livre do antigo "Bazar da Moda", de Rafael Mazza, que em 1957 veio a se chamar "Lojas Mazza" com a transformação em sociedade anônima, a loja da foto provavelmente seja na Rua XV de Novembro (nº 577) antes de fixar endereço no térreo do Edifício Glória (1935).




Abaixo foto da visita da Miss Universo Yolanda Pereira na inauguração da loja do Sr. Mazza, provavelmente da Loja no térreo do Edifício Glória (1935).






Raphael Mazza foi proprietário das lojas Bazar da Moda, posteriormente Lojas Mazza, em atividade no período de 1907 a 1994.

19 de jun. de 2016

Lá… por Francisco LOBO DA COSTA



Na minha terra, lá…quando
o luar banha o potreiro
passa cantando o tropeiro,
cantando…sempre cantando…
depois descobre-se o bando
do gado que muge adiante,
e um cão ladra bem distante…
Lá… bem distante!…na serra!
– Nunca foste a minha terra?

Enfrena, pois, teu cavalo,
ferra a espora, alça o chicote,
e caminha a trote…a trote…
se não quiseres cansá-lo.
Ainda não canta o galo,
é tempo de viajares,
deixarás estes lugares,
irás vendo novas cenas,
sempre amenas…muito amenas!

O laranjal enverdece
ao disco argênteo da lua,
e a estrada deserta e nua
logo aos olhos te aparece…
Uma figueira ali cresce
beijando a fralda ao regato:
e lá… no fundo do mato,
arde o rosado e fumega
a vassourinha, a macega…

Se um grito de fero açoute
estruge no ar austero,
não tremas! É o quero-quero
que vem te dar a boa noite.
Um conselho porém dou-te:
um pouso tens a teu lado;
mas não lhe batas…cuidado!
Antes procura outros meios
dormindo sobre os arreios.

Não que se negue a tais horas
agasalho ao forasteiro,
mas, porque, foras primeiro
assustado sem demora!
“Ó Juca” põe-te pra fora! “
solta o cão…traz o trabuco…”
“matemos este maluco!”
para no fim do rebate
ir contigo tomar mate.

Logo ao romper da alvorada
põe a soga o teu cavalo:
podes passar-lhe um pealo,
uma maneia trançada,
depois vai pedir pousada;
de dia nada receias;
verás meninas sem meias…
“Eh pucha!” que lindas moças
de pernas grossas…bem grossas!

Hão de fazer-te mil festas,
dar-te atenção e carícias,
porquanto minhas patrícias
são modestas, bem modestas!
Mil vezes os mimos destas
porque são filhos da estima.
Aceita-os, pois, e por cima
come o bom churrasco insosso,
que elas dirão que és bom moço!

À noite, escuso avisar-te,
dança-se a parca “Tirana”;
tira a primeira serrana
que não há de recusar-te,
ali, a um canto…de parte,
o velho fuma um cigarro;
de quando em quando um escarro,
ao passo que um mariola
arranha numa viola.

Não te espante os cavalheiros,
muitos verás de tamancos
outros de sapatos brancos
ou de “botas de terneiros”;
esses serão os primeiros
na “competência dos pares…”
nem te rias se escutares:
-”Eu danço “cá siá” Maruca,
“A Chica dança cô Juca!”

Ouvirás após cantiga
de versos de pés quebrados,
coisas de tempos passados
que talvez a rir te obriga;
se queres porém que o diga:
acho mais graça e beleza
naquela simples rudeza,
que neste folgar sem lei
de muita gente que eu sei.


Ali, verás como incita
o viver da solidão,
tomando o teu “chimarrão”
feito por moça bonita;
verás vestidos de chita,
muita vida em cada rosto…
Mas, se duvidas do exposto,
é fácil: – volta pra aqui,
e dirás se te menti.


LOBO DA COSTA

2 de out. de 2015

PROPOSTAS PARA UM CARNAVAL POPULAR por Clovis Veronez

A questão da realização ou não do carnaval 2016 em Pelotas, tem gerado uma grande preocupação de parte das entidades e, se não gerou, ainda, deveria gerar ao poder público, ao qual cabe a responsabilidade de viabilizar uma estrutura mínima para que os festejos populares possam ocorrer.
A prefeitura dispõe-se a repassar as entidades um montante de R$ 300 mil. O valor é aceitável, visto que, corresponde ao que foi dotado em 2015. Penso que as entidades deveriam aceitar esse repasse como subvenção. Seria justo, face à crise e a situação excepcional alegada pelo poder público. A partir disso, discutir as condições minimas para que o evento ocorra.
Batido o martelo, sobraria a questão do local para os desfiles? Penso que não.
Há muito, as entidades e os governantes deveriam ter incluído na sua pauta de debates e reuniões a questão de um modelo de festa popular que favoreça o aprimoramento e ao desenvolvimento do produto carnaval integrando-o as políticas de desenvolvimento turístico e econômico do município. A excepcionalidade da situação poderia oportunizar, assumidas as responsabilidades, um “balão de ensaio”, sobre alternativas no modelo de festa.
Pelotas adota, a muito tempo, o modelo do Rio de Janeiro como padrão, ou seja, o concurso em arena fechada envolvendo todas as categorias e estilos que compõe nossa cultura carnavalesca (blocos e escolas mirins e adultas, burlescos, bandas) tudo no mesmo espaço e faixa aproximada de horários.
Além de reduzir a participação do público e absorver uma soma vasta de recursos, o modelo “sambódromo”, em sua precariedade, fortalece e alimenta as criticas de uma parcela da população, que não enxerga com bons olhos o evento.
Esse formato, não produz bom resultado. Ao mirarmos o inalcançável modelo “Made em Rio de Janeiro”, esquecemos aquilo que nos torna únicos (nossas raízes culturais e nossa história), não raramente sucumbindo à mediocridade de um “arremedo”.
O saldo é previsível: prejuízos a sustentabilidade da festa, enfraquecimento da sua cadeia produtiva e decadência continuada do carnaval.

Isso posto, apresento um conjunto de idéias, com olhar direcionado a discussão que se impõe agora, e adiante. Essas idéias, acrescidas de outras originadas no debate entre as entidades, poderiam ser “testadas” no carnaval de 2016, como alternativa a sua viabilização.
1-Faça-se a luz para abrilhantar a festa
Defendo, por diversos motivos, a realização de um carnaval diurno. Mas, destaco aqui, três aspectos: 
- Primeiro (referente à sua própria visualização) A luz do dia torna mais nítida a avaliação dos critérios estéticos dos cortejos, considerando-se que: impõe leveza e cuidadoso acabamento de fantasias e alegorias. 
- Segundo, diz respeito à segurança do público, e dos que desfilam.
- Terceiro, por que reduz a zero uma demanda técnica sempre insuficiente e cara. A participação popular, tenho certeza, ampliar-se-ia em escala geométrica.

2- Faça-se “cultura” para encantar o público
Os desfiles temáticos e técnicos deveriam segundo essa idéia, eleger um tema comum para a mostra em 2016 , voltados à valorização de aspectos relevantes da cultura popular local.
Um tema que proporcionasse um mergulho na “Cultura carnavalesca da cidade de Pelotas”, me pareceria adequado a todas as categorias e simpático ao público, nesse momento de incerteza.
Isso em nada inibiria a inventividade, ao contrário, estimularia a pesquisa crítica da história e das suas referencias estéticas, servindo de base a construção da cena, proposta no “cortejo” carnavalesco.
O desfile teria, nas escolas de samba, caráter “épico” de critica e reinvenção da cultura popular. Nos burlescos o espaço adequado à sátira de comportamentos e costumes.
Nessa perspectiva, precisam ser avaliados os quesitos técnicos ou, considerados obrigatórios, para o desfile das escolas de samba locais (adultas e infantis) onde, também, nos orienta um organograma “importado” do carnaval carioca, em muitos aspectos, descolado da cultura carnavalesca local. Cito como exemplo o caso da obrigatoriedade de uma ala de “baianas” ou do próprio desfile organizado por alas.
Sobre esse aspecto, penso sobre alternativa hibrida entre o modelo dos clubes sociais (espetáculo plástico e alegórico), do final do século IXX e do inicio do século XX e aquele proposto pelas agremiações originadas nas comunidades negras em meados do séc XX (cordões), voltados ao envolvimento das comunidades e valorização do samba.
Penso, como proposta a ser discutida, que os quesitos obrigatórios deveriam ser: Estandarte, Alegoria temática (única), corte, passistas, Fantasias em destaque, cena de conjunto, mestre sala e porta bandeira, samba temático e bateria. A proposta visa resgatar os elementos estéticos que aproximam o carnaval a um conceito de espetáculo ou, se preferir, de uma ópera popular. Ficam valorizados os aspectos cenográficos, de dança e bailado, os musicais e os culturais/locais.
3- Diversifiquem-se os espaços para envolver a cidade e o público
É preciso distinguir os desfiles temáticos e técnicos daqueles não regulados por quesitos. Assim, vislumbra-se a possibilidade de espaços alternativos para as apresentações como por ex: o largo do mercado para as bandas, o entorno da praça Pedro Osório para as escolas e blocos infantis, a rua Osório para os burlescos e a avenida Bento para as escolas adultas.
Estas são idéias iniciais, que coloco a apreciação do universo carnavalesco da cidade e de todos aqueles que desejam o desenvolvimento da cultura popular em nosso município.

Texto de Clovis Veronez


* Foto Carnaval na Rua XV de novembro em 1968
O texto aqui publicado é de responsabilidade do autor. Caso queira enviar o seu, mande para o e-mail preteritaurbe@hotmail.com.


25 de ago. de 2015

Dom Antônio Zattera pelo Prof. Wallney Joelmir Hammes

 Dom Antônio Zattera: Fundador da Universidade Católica de Pelotas, viveu 88 anos, deixando inscrito, na mente e no coração dos contemporâneos e dos pósteros, com o cinzel de um temperamento marcante, o dístico de seu brasão episcopal Omnia possum in Eo qui me confortat. Sim, ele tudo pôde, com fé inquebrantável e determinação férrea, no exercício do mais eficaz instrumento de evangelização – a educação.
Esse abençoado ministério já fora exercido desde muito cedo quando, em Bento Gonçalves, RS, sua segunda paróquia, fundou o Ginásio Nossa Senhora Aparecida e a Escola Nossa Senhora Medianeira.
Ele próprio, como pároco, dirigia peças teatrais sobre temas educativos, entusiasmando de tal forma a juventude que mal se conseguia conter a multidão que afluía aos espetáculos.
A catequese, a cultura, a arte, a educação do povo, a visita às famílias, a presença constante entre os jovens, tudo era importante para ele.
Era essa inquietude, traço peculiar de seu caráter, que o tornava admirado por seus colegas e notado por seus superiores. Tomando parte como capelão do exército na revolução de 1930, entre os dezesseis padres nomeados pelo arcebispo Dom João Becker, o cabo Zattera desincumbiu-se com galhardia de sua missão, retornou com as forças vitoriosas e reassumiu a sua paróquia, sendo, em seguida, nomeado Cônego Honorário do Cabido de Porto Alegre. E mais uma vez nova e árdua missão foi-lhe reservada: em 31 de maio de 1942, na igreja matriz de Santo Antônio, em Bento Gonçalves, foi sagrado bispo em cerimônia presidida por Dom João Becker, acolitado pelos bispos Dom José Barea e Dom Cândido Bampi. Em 9 de julho, chegava a Pelotas para assumir a diocese que lhe fora destinada pelo papa Pio XII, como terceiro bispo, em substituição ao saudoso Dom Joaquim Ferreira de Melo.
Logo após tomar posse no governo da diocese, Dom Antonio já se deparava com o angustiante problema do menor abandonado. Foi procurado pelo juiz de menores, Dr. José Alsina Lemos, e o delegado de polícia, Dr. Galeão Xavier de Castro, que lhe solicitaram o apoio à iniciativa de dotar Pelotas de uma casa que abrigrasse esses meninos. Compreendendo a nobre finalidade, Dom Antônio imediatamente pôs-se a campo, convocando uma reunião de representantes de todas as associações católicas locais, ocasião em que sugeriu a formação de diversas comissões para angariar os fundos necessários à concretização da obra, o que efetivamente aconteceu, com inauguração em 26 de março de 1944.
Oito anos após ter assumido a diocese, Dom Antônio, emocionado, viu inauguradas as obras de reforma da Igreja Catedral de Pelotas, cartão de visita da cidade e consagração da arte à religiosidade. Em 1910, a velha Matriz da Freguesia de São Francisco de Paula recebeu o título de Igreja Catedral, em vista da elevação de Pelotas à sede de bispado. A construção, terminada em 1853, serviu de Catedral até o ano de 1934. Diante da deterioração do prédio, após um referendum popular solicitado por Dom Joaquim, decidiu-se preservar a fachada e demolir todo o resto do templo, para dar lugar a uma construção nova, mais condizente com as necessidades dos fiéis. Assim, construiu-se o que é hoje o corpo da Igreja Catedral. Coube a Dom Antônio a realização das ampliações: o presbitério com sua alterosa cúpula em harmonia com as torres, a cripta, as sacristias e o salão paroquial. A decoração é obra-prima no seu gênero de pintura clássica, executada pelo artista Aldo Locatelli e pelos decoradores Emilio Sessa e Adolfo Goldoni. Foram recomendados a Dom Antônio por Dom Bernaregi, bispo de Bérgamo, donde os artistas eram naturais, por sugestão do núncio apostólico de Paris, Dom Giuseppe Roncalli, futuro papa João XXIII. O majestoso altar foi confeccionado em ótima oficina de Bérgamo com os melhores mármores da Itália. Os recursos foram angariados, segundo Dom Antônio, "do generoso povo pelotense por donativos e quermesses na praça da Catedral, no Centro Português e no Clube Caixeiral". A inauguração deu-se na noite de Natal do ano 1950.
Quando Dom Antônio assumiu, em 1942, o governo da diocese que abrangia também as cidades de Rio Grande e Bagé, nenhuma escola superior existia, fora da capital, para formação de professores do ensino secundário (atual ensino médio). Após dois anos de contínuas viagens ao Rio de Janeiro, conseguiu, em 1953, a primeira Faculdade de Filosofia no interior do Estado. Idênticas faculdades fundou Dom Antônio nas cidades de Bagé e Rio Grande, respectivamente em 1958 e 1961. Em 1960, foi autorizada a funcionar a Faculdade de Direito "Clóvis Bevilacqua" em Rio Grande. Com a Faculdade de Ciências Econômicas, fundada em 1937, pelo Irmão Fernando, lassalista, e incorporada à Mitra Diocesana em 1955, e o curso de Jornalismo, criado em 1958 e transformado em Faculdade de Comunicação Social, em 1960, já havia o número necessário de unidades para a criação de uma universidade. Criada em 7 de outubro de 1960 pelo decreto n.º 49.088, assinado pelo presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, a Universidade Católica Sul-Rio-Grandense de Pelotas (posteriormente denominada Universidade Católica de Pelotas com o desmembramento das faculdades de Rio Grande e Bagé) foi instalada oficialmente em sessão solene no Teatro Guarany em 22 de outubro de mesmo ano, presidida pelo núncio apostólico Dom Armando Lombardi, com a presença de altas autoridades do município, do estado e do país.
Em 1965, Dom Antônio assumiu a reitoria. Ascensionalmente desenvolvia-se a novel universidade movida pelo entusiasmo de seu criador e reitor. Ele simplesmente avançava. Vencer obstáculos era a sua especialidade. Quanto maior o desafio, mais se fortalecia a sua tenacidade. Foi um reitor sem salário porque, segundo dizia, a Mitra já lhe dava casa e comida. Permaneceu no cargo de reitor até a sua renúncia como bispo diocesano, em 1977. O seu único pedido foi o de permanecer em Pelotas, residindo num pequeno apartamento no Instituto de Menores. Ali, entre os seus meninos e adolescentes, continuou a prestar assistência religiosa, social e profissional até a sua morte ocorrida no dia 15 de outubro de 1987.
Dom Antônio tinha uma personalidade forte. Uns admiravam-no sem restrições; outros olhavam-no com reservas. É sempre o bônus e o ônus da liderança. A todos Dom Antônio respondia com ação: ação pastoral, ação social, ação educativa. Muitas vezes, a crítica dirigia-se ao fato de ele não se dedicar por inteiro às obrigações religiosas próprias de um bispo, colocando-as em segundo plano ao favorecer com sua atenção a Universidade e as demais instituições que fundou ou obras que mandou construir. Críticas, evidentemente, que partiam de pessoas nem sempre sinceras na sua própria conduta e convicções. Afinal, muito antes de ser um asceta, um contemplativo, Dom Antônio, durante toda a vida, serviu; foi um servidor tão dedicado a Deus e aos homens que continuamos a colher os frutos sazonados de sua obra. Permaneceu sempre fiel a Jesus Sacramentado, dedicando-lhe três congressos eucarísticos, e à Medianeira, a quem se consagrou por toda a vida.
Seus feitos são mais perenes que o bronze, mais duradouros que o granito. Viveu a vida em plenitude, combateu o bom combate. Não somente criou instituições, não somente construiu, não somente administrou mas, acima de tudo, formou homens e mulheres no espírito de solidariedade e de participação humana e cristã, os quais são os herdeiros e os continuadores de sua obra e de seus ideais na construção de uma sociedade mais justa e mais fraterna.

Texto elaborado pelo Prof. Wallney Joelmir Hammes. Atualmente é professor titular da Universidade Católica de Pelotas. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Portuguesa. Informações coletadas do Lattes em 23/06/2015.

26 de jun. de 2015

O MATE DO JOÃO CARDOSO João Simões Lopes Neto


— A la fresca!… que demorou a tal fritada! Vancê reparou?
Quando nos apeamos era a pino do meio-dia... e são três horas, largas!... Cá pra mim esta gente esperou que as franguinhas se pusessem galinhas e depois botassem, para depois apanharem os ovos e só então bater esta fritada encantada, que vai nos atrasar a troteada, obra de duas léguas... de beiço!...
Isto até faz-me lembrar um caso.. . Vancê nunca ouviu falar do João Cardoso?... Não?... É pena.
O João Cardoso era um sujeito que vivia por aqueles meios do Passo da Maria Gomes; bom velho, muito estimado, mas chalrador como trinta e que dava um dente por dois dedos de prosa, e mui amigo de novidades.
Também... naquele tempo não havia jornais, e o que se ouvia e se contava ia de boca em boca, de ouvido para ouvido. Eu, o primeiro jornal que vi na minha vida foi em Pelotas mesmo, aí por 1851.
Pois, como dizia: não passava andante pela porta ou mais longe ou mais distante, que o velho João Cardoso não chamasse, risonho, e renitente como mosca de ramada; e aí no mais já enxotava a cachorrada, e puxando o pito de detrás da orelha, pigarreava e dizia:
— Olá! Amigo! apeie-se; descanse um pouco! Venha tomar um amargo! É um instantinho.... crioulo?!…
O andante, agradecido à sorte, aceitava… menos algum ressabiado, já se vê.
— Então que há de novo? (E para dentro de casa, com uma voz de trovão, ordenava:) Oh! crioulo! Traz mate!
E já se botava na conversa, falava, indagava, pedia as novas, dava as que sabia; ria-se, metia opiniões,
aprovava umas cousas, ficava buzina com outras...
E o tempo ia passando. O andante olhava para o cavalo, que já tinha refrescado; olhava para o sol que subia ou descambava… e mexia o corpo para levantar-se.
— Bueno! são horas, seu João Cardoso; vou marchando!…
— Espere, homem! Só um instantinho! Oh! crioulo, olha esse mate!
E retomava a chalra. Nisto o crioulo já calejado e sabido, chegava-se-lhe manhoso e cochichava-lhe no ouvido:
— Sr., não tem mais erva!…
— Traz dessa mesma! Não demores, crioulo!...
E o tempo ia correndo, como água de sanga cheia.
Outra vez o andante se aprumava:
— Seu João Cardoso, vou-me tocando… Passe bem!
— Espera, homem de Deus! É enquanto a galinha lambe a orelha!… Oh! crioulo!… olha esse mate, diabo!
E outra vez o negro, no ouvido dele:
— Mas, sr!… não tem mais erva!
— Traz dessa mesma, bandalho!
E o carvão sumia-se largando sobre o paisano uma riscada do branco dos olhos, como encarnicando...
Por fim o andante não agüentava mais e parava patrulha:
— Passe bem, seu João Cardoso! Agora vou mesmo. Até a vista!
— Ora, patrício, espere! Oh crioulo, olha o mate!
— Não! não mande vir, obrigado! Pra volta!
 Pois sim…, porém dói-me que você se vá sem querer tomar um amargo neste rancho. É um instantinho...
oh! crioulo!
Porém o outro já dava de rédea, resolvido à retirada.
E o velho João Cardoso acompanhava-o até a beira da estrada e ainda teimava:
— Quando passar, apeie-se! O chimarrão, aqui, nunca se corta, está sempre pronto! Boa viagem! Se quer esperar... olhe que é um instantinho... Oh! crioulo!…
Mas o embuçalado já tocava a trote largo.
Os mates do João Cardoso criaram fama… A gente daquele tempo, até, quando queria dizer que uma cousa era tardia, demorada, maçante, embrulhona, dizia — está como o mate do João Cardoso!
A verdade é que em muita casa e por muitos motivos, ainda às vezes parece-me escutar o João Cardoso, velho de guerra, repetir ao seu crioulo:
— Traz dessa mesma, diabo, que aqui o sr. tem pressa!...
— Vancê já não tem topado disso?…

Contos Gauchescos, de João Simões Lopes Neto
Fonte:


LOPES NETO, João Simões. Contos gauchescos. 9.ed., Porto Alegre : Martins Livreiro, 1998.  

9 de jun. de 2015

"Pelotas, cidade histórica de história esquecida" por Carlos Pinheiro Martins

Estamos nos aproximando de mais um Dia do Patrimônio, isso me leva a lembrar um comentário que fiz na minha rede social no ano passado, comentei sobre o nível de despreparo que nossa cidade tem para lidar com o nosso belo, histórico e importante patrimônio e isso não tem nenhuma ligação com governo A ou B, partido A ou B, é histórico, nossa história foi se perdendo e se deixando esquecer com o passar dos anos sem que nada seja feito de forma contundente.
Como todos sabem, Pelotas já foi comparada a Paris, Pelotas já foi dita como polo turístico, Pelotas é patrimônio histórico, quantas vezes narrada e cantada. Onde foi parar esses títulos? Na história que está sendo esquecida. Garanto que, se nunca essa importância houvesse sido deixada de lado, Pelotas seria um polo turístico tão importante para o Estado quanto é Gramado ou as cidades da serra. A história ta aí, os prédios históricos estão aí, mas não são aproveitados, poucos têm acesso para visitantes, poucos tem histórias conhecidas.
A própria cidade tem subsídios para mudar radicalmente isso, somos uma cidade universitária com cursos importantes como turismo, história, teatro e tantos outros. Imaginem o turista chegar na cidade e ser recepcionado por artistas, devidamente trajados como na época perambulando pela cidade, como se ainda estivessem por aqui os moradores da época, com convites para conhecer suas casas e estas estarem abertas para que pudessem ser visitadas e ouvirem historias sobre elas. Fazer uma rota turística por dentro da cidade em carro aberto ou histórico passando pelas casas, charqueadas, praças, praias, enfim por onde houver história a ser contada, que diga-se de passagem é toda a cidade. Lindo seria se Pelotas fosse uma grande cidade cenográfica, quantas pessoas viriam nos visitar tendo certeza de que estaria vindo para dar uma volta no passado, que interessante seria ver crianças brincando na praça com roupas e brinquedos de época sendo reparados por suas amas, como ocorria no passado. Alunos do teatro poderia suprir essa ideia, atores ensinados por alunos de história, ou esses acompanhando sempre para dar as informações, contar as histórias. Como seria atrativo e bonito termos personagens aristocratas sentados no mercado comendo um doce, tomando um chá conversando e convidando as pessoas para irem ao seu trabalho no Banco Pelotense. Depois de uma volta pelos prédios históricos do centro, poder ir, convidado por uma bela e elegante senhora a conhecer a sua casa e descobrir que essa senhora é a Baronesa e sua casa é o museu ou convidado por um Senhor a visitar sua charqueada e ele ir junto até lá contando histórias sobre como construiu coisas que passou e ir até a praia, sabendo como ela surgiu. Como seria emocionante encontrar nosso celebre Simões Lopes pela rua ou na biblioteca contando histórias sobre seus Contos. Porto Alegre enaltece a Quintana, Rio de Janeiro a Drummond e tantas outras, por que nós não? Enfim, como disse antes, uma grande cidade cenográfica, atrativa, a final já temos os cenários prontos, eles precisam e deveriam ser usados.
Alguns poderiam dizer que isso sairia caro, mas se bem embasado, se bem feito, se houver todos esses atrativos, será pago com prazer. Praticamente todos que viajam já sabem e contam que irão gastar e terão prazer em gastar se for por algo com retorno interessante, quantos divulgarão a seus amigos, "vá a Pelotas! é lindo, parece que você voltou no tempo, você é recebido pelos moradores das casas com roupas de época que contam histórias da época!", o Dia do Patrimônio está chegando, mais um ano em que eu irei revisitar os prédios, certamente encontrarei pessoas mal preparadas como guias, que não saberão contar histórias interessantes, apenas dirão o básico, o bem básico e muitas vezes o óbvio ou alguns absurdos. Lembro de que no ano passado ouvi que nosso Arroio São Gonçalo chamava-se Rio São Lourenço. Esse ano garanto que está perdido, mas quem sabe alguém com força para movimentar isso consiga preparar para o próximo ano, por favor, faria tão bem para nossa cidade. E por final, de nada adianta isso acontecer só nessa data, boa parte das pessoas têm apenas o final de semana para viajar e se decidem vir para Pelotas, o que encontram são fachadas, pois nada está aberto, nem mesmo a biblioteca, prefeitura, outros prédios públicos e nem mesmo o mercado abre no domingo, esse último que está lindo depois da reforma, mas não é mais um mercado com cara de mercado, não há mais bancas com muitos cheiros, com muitos produtos pendurados, frutas, temperos, aquele sentimento de "só tem no mercado". Quantas vezes vejo guias, que muitas vezes são ótimo e podiam ser melhor aproveitados, contando histórias de um prédio fechado, com suas lindas portas tristes fechadas e trancando a história que está lá dentro, quantas pessoas não ficam sagazes por entrar no prédio e sentir aquela sensação de voltar no tempo de reviver a história. Emocionante.
Não deixemos que nossa história seja ainda mais esquecida, que ela caia junto com nossos prédios.

Texto de Carlos Pinheiro Martins
cpmmartins@yahoo.com.br

Pelotas comemora o dia do patrimônio nos dias 14, 15 e 16 de agosto de 2015. Fonte: http://www.pelotas.com.br/






O texto aqui publicado é de responsabilidade do autor. Caso queira enviar o seu, mande para o e-mail preteritaurbe@hotmail.com.

22 de abr. de 2015

CASAS PROCÓPIO DE CALÇADOS LTDA

Infelizmente a história das Casas Procópio se perdeu no tempo, junto com o falecimento de seus idealizadores. O depoimento a página de Marcos Pereira de Souza, neto do Sr. Elysio (falecido em 1986), um dos fundadores, nos trás a lembrança desse estabelecimento que ainda hoje é lembrado quando se fala sobre o antigo comércio de Pelotas. 

Rua Andrade Neves, ainda sem o calçadão, na década de 70. Casas Procópio a esquerda, entre as lojas Modalam e Imcosul.
         Sr. Elysio Belchior Pereira (estaria completando 100 anos este ano) e seu irmão Sr. Wilson Belchior Pereira foram os fundadores das Casas Procópio, especializada em calçados, na década de 30 com uma pequena loja na Rua XV de Novembro. Nos anos 60 abriram uma Procópio na Rua Andrade Neves, conhecida como “A Feira de Calçados”, onde hoje localiza-se a C&A. No fim da década de 70 foi criada a Procopinho, filial especializada em calçados infantis, que assim como a Procópio, teve dezenas de filiais em cidades como Rio Grande e Bagé. Havia a loja chamada "Procópio Boutique" (3° Procópio), onde antes foi a loja chamada "John John", da familia dos donos da Procópio, especializada no jeans "Staroup" (durou poucos anos), no calçadão da Rua Andrade Neves, em frente a antiga Casa Beiro, foi ali naquele local que trabalhou Rejane Vieira Costa (Rejane Goulart), onde a convite da "Associação Atlética Casas Procópio" participou do concurso Miss Pelotas se consagrando campeã e vindo a disputar e também vencer os concursos de Miss Rio Grande do Sul e Miss Brasil, e por fim Vice-Miss universo (1972), Rejane era natural de Cachoeira do Sul, e criou-se em Pelotas, vindo a falescer em 2013. E por fim em 1981, em frente ao Café Aquários a Procópio inaugurou a Timesport, sua divisão de esportes. 
Em 1985 as Casas Procópio foi vendida a loja "Leila Calçados" de Porto Alegre, depois ainda funcionou naquele local a Empório de Tecidos. A loja C&A quando se instalou em Pelotas adquiriu três imóveis no centro no ano de 1997, sendo os dois onde ficavam a Feira de Calçados da Procópio, a Procopinho e um terceiro ao lado. 
A Timesport permaneceu com a família, nas mãos do Sr. Antônio Carlos Marroni Pereira, filho do Sr. Elysio Belchior Pereira. Em 1985 passou a ser de Vinícius Pereira e retornou a ser do Sr. Antônio Carlos em 1997 que veio a fecher em 2007 com seu falecimento.

Nesta foto pode-se ler a data 10-3-38. a frente de terno escuro está o Sr, Elysio Belchior Pereira. A foto foi tirada na frente da primeira loja, aberta nesta época. Atrás dele  seu irmão, Wilson Belchior Pereira.


Foto também da década de 30. Sr. Elysio Belchior Pereira de terno claro.

Nesta foto (algum evento esportivo do Colégio Gonzaga) podemos ver toda a fachada da primeira filial das Casas Procópio na rua XV de Novembro, provavelmente década de 40 ou 50. Foto gentilmente cedida por  de Letícia Arraldi Boscatto.
Fachada da primeira filial das Casas Procópio ampliada.

Inauguração da uma nova filial da Procópio. No verso, bem apagado, dá para ver uma anotação que seria dos anos 50.

Foto de uma promoção das Casas Procópio de 1982, na Rua Andrade Neves, com o ator Ferrugem (garoto propaganda da Ortopé).

Podemos ver a fachada da "Casas Procópio" no calçadão em um registro da apresentação da banda musical, da Escola Técnica Federal de Pelotas (ETFPEL), no ano de 1986. Reprodução da foto do Memorial IFSul.

Logomarca da casa de calçados da Procópio nos anos 80, a Procopinho.

Esta logomarca é datada de 1981, quando aconteceu a inauguração da Timesport.




Curiosidades:
         - Na inauguração da Procópio de Rio Grande causou um alvoroço na cidade pois foi contratado o ator Castrinho, que na época fazia um quadro no programa do Chico Anysio como personagem Cascatinha. Foi um tumulto tão grande que tiveram que fechar as portas da loja e na saída as pessoas queriam tocar no Castrinho e acabaram rasgando a roupa que ele usava.


        - Em épocas de Dia das Crianças e Natal alguns funcionário da loja saiam no centro vestindo fantasias do Pato Donald e Mickey, cujas cabeças eram enormes, feitas em fibra.


        - Também foi da rede das Casas Procópio, talvez a primeira Surf Shop de Pelotas, a Caiaque Surf Shop, que viveu o verão de 1983 ao lado da Timesport, onde depois foi a loja do Brasil de Pelotas, havia uma filial no Cassino.


         - A Loja Ofertão, que se localizava na Mal. Floriano, entre Osório e Deodoro, também pertencia aos donos da procópio. Tinha como objetivo atingir um público de menor poder aquisitivo, com venda de pontas de estoques e marcas mais baratas. Em 84 foi vendida a dois ex-funcionários e mantiveram até a década de 90, quando então foi vendido o prédio. Um dos ex-funcionários que comprou o Ofertão foi o Luis Oliosi que depois de encerrar as atividades da loja fez o Restaurante Batuva, junto com o Alfredo Mello.

Texto de Fábio Zündler

Reprodução de propaganda das lojas Procópio em jornal local.
Reprodução de Leni Dittgen de Oliveira

Lápis lembrança ofertado aos clientes na época.


atualizada em 
23.4.2015 sobre Rejane Vieira Costa
27.4.2015 curiosidades
2.5.2015 sobre Caique Surf Shop
4.5.2015 sobre Ofertão
12.05.2015 Add foto rua XV de Novembro.
14.5.2015 Foto lápis e fachada ampliada.
24.6.2015 Foto da banda da ETFPel do Memorial IFSul.
10.10.2016 Reprodução de propaganda em jornal local

15 de abr. de 2015

NOS TEMPOS DO “BULE MONSTRO” (1882 - 1968) - QUE FIM LEVOU O “BULE”?

Fig 1: Bazar e seu bule monstro na fachada. Foto de 1961, Rua Andrade Neves esq. Rua Sete de Setembro. Click na foto para ampliar
      A partir do ano de 1904, quem transitava no cruzamento entre as Ruas Sete de Setembro e Andrade Neves podia ver o “Monstro", por muitas décadas pairou sobre as cabeças das pessoas e ainda hoje permanece, porém agora no imaginário de quem conheceu.
    O monstro era um grande bule! Sinalizava que naquele local havia um comércio diferenciado e imponente, assim como representava seu símbolo, foi batizado de “Bazar Bule Monstro". Durante 86 anos [entre os anos de 1882 e 1968] esteve em funcionamento no coração da antiga Pelotas.
     No fim do século XIX Pelotas já convivia com o que havia de melhor na Europa em cristais, louças, talheres, lustres e tecidos. Um dos comércios que representava e mantinha toda essa grandiosidade da época de ouro, era o Bule Monstro, uma espécie de bazar onde até mesmo a Princesa Isabel esteve fazendo compras. [15 de fevereiro de 1885].
      O bazar quando inaugurado em 1882, pelos Srs. Alfredo Ferreira Sampaio e Antônio Francisco Madureira, tinha sede a Rua São Miguel n.177*, via que a muito tempo [desde 1895] chamamos de XV de novembro. A sociedade entre os dois proprietários só seria desfeita em 1885 quando o Sr. Pedro Afonso dos Santos se juntaria com o Sr. Alfredo para dar continuidade aos negócios. Em 1899 junta -se a sociedade o Sr. Alberto Sampaio.*
    Em 1912, após o falecimento do Sr. Alfredo Ferreira Sampaio [1911], estabelecimento o mais antigo é vendido por sua viúva, Sra. Fortunata de Faria Sampaio, ao Sr. Antônio Gigante*. No mesmo ano o Jornal A Federação noticia a iluminação do Bazar Bule Monstro, já a rua XV de Novembro. A instalação elétrica foi feita pela casa Bromberg & Cia., de Pelotas.*

*Fonte: pesquisador A.F. Monquelat

Fig.2: Notícia sobre a instalação da iluminação no BAZAR BULE MONSTRO. Extraída do jornal A Federação - 02.10.1912. Contribuição de Cinara Dias de Oliveira. Click na foto para ampliar
"aquele tempo, as maiores lojas de comércio exigiam instalação própria para o fornecimento de luz, e o Bule Monstro estava nesse número para poder ter, á noite, brilhantemente iluminadas as suas vitrines dando para a Rua Sete de Setembro e Andrade Neves, na era urbana da iluminação pública feita por lampiões a gás". (Nascimento,1989, p.293)

      Em uma entrevista ao “Blog Panorama Pelotas” (NETO, 2009), antes de falecer, o Sr. Eddy Sampaio Espellet relata que seu avô materno – Alfredo Sampaio – falecido em 1911, filho de portugueses, nascido em Rio Grande, foi quem criou o Bazar Bule Monstro, informação que vem ratificar a matéria publicada anteriormente no Diário Popular no ano de 2003, onde Renato Sampaio, em visita a Fenadoce, reconheceu na réplica de um bule a marca da empresa da família, onde lê- se na publicação que seu avô foi o primeiro proprietário da empresa.
     A propaganda do Bazar Bule Monstro sempre esteve presente nos Almanaques de Pelotas e nos reclames dos principais jornais da cidade. No ano de 1912 as publicidades da loja estavam em nome do Sr. Antônio Gigante (fig.7), nota-se que o endereço é “Andrade Neves, 619”. Já a partir de 1921 as publicidades aparecem junto ao nome de Patrício Simões Gaspar (fig.8), que vem a ser o último dono do bazar, no endereço de Andrade Neves, 628. 
   Nas fotos podemos constatar que o Bule monstro teve duas sedes, ambas no cruzamento das Ruas Andrade Neves com Sete de Setembro, uma em frente a outra, como mostram as três imagens a seguir, que aparecem o bule na fachada. Segundo o pesquisados A.F. Monquelat um dos endereços seria uma especie de depósito do bazar.



Fig.4: Bule monstro fundado em 1882, nota-se que existiam dois endereços na Rua  de 7 de Setembro, um de fronte ao outro.Click na foto para ampliar
Fig. 5: Rua Andrade Neves, vista em direção a Rua Sete de Setembro. Bule monstro no detalhe a esquerda.Click na foto para ampliar
Fig. 6: Década de 60, Rua Andrade Neves, vista em direção a Rua Sete de Setembro. Bule monstro no detalhe a direita.Click na foto para ampliar
      Segundo o Sr. Eduardo Duarte Bernardes, bisneto de Patrício Simões Gaspar, o bazar bule monstro foi realmente comprado da família Gigante. 
      O Sr. Bernardes tem dois membros de sua família na história de Pelotas, o próprio Sr. Gaspar, que além de dono do bazar, fez parte do secretariado da criação do Banco Pelotense, na casa do Sr. Plotino Amaro Duarte, também bisavô de Bernardes, mas isso já é outra história. Sr. Antônio José Peres Bernardes, casado com a Sra. Cândida Gaspar, filha do Sr. Gaspar, assumiu a loja após a morte do sogro, tempo depois o Sr. Álvaro Gaspar Bernardes, em idade de trabalhar, entrou como sócio, o que aconteceu até o fechamento em novembro de 1968, quando a loja foi vendida ao Sr. Joaquim Adriano Júlio, dando lugar a Ótica Cristal, que declara que o nome de seu estabelecimento provém dos lindos cristais que eram vendidos no Bazar e que nunca esquecera.
 “No mesmo ano de minha chegada, 1968, eu e um sócio fundamos a Joalheria e Ótica Reunidas. A loja ficava no centro da cidade, em um prédio onde funcionava também um famoso bazar com o exótico nome de “Bule Monstro”. Lembro-me vivamente desse bazar, que comercializava produtos típicos desse ramo. Entre esses, despertavam-me interesse os puros cristais ingleses, uma raridade. Desse encantamento visual veio-me a inspiração para o nome fantasia” .(FILHO,2013)

Fig.7: Almanaque de Pelotas, 1915. Publicidade bule 
monstro em nome de Antônio Gigante. Andrade Neves, 619.Click na foto para ampliar
Fig.8: No Almanaque de Pelotas, 1921 a publicidade do Bule monstro já aparece com nome de Patrício Simões Gaspar. Andrade Neves, 628, assim como nos próximos almanaques.Click na foto para ampliar

Fig.9: Propaganda do Bule monstro no Almanaque de Pelotas, 1922. Click na foto para ampliar

Fig.10: Propaganda do Bule monstro no Almanaque de Pelotas, 1923. Click na foto para ampliar


QUE FIM LEVOU O “BULE”?

      Pelas fotos que chegaram até nós hoje, podemos conhecer como foi esse comércio, pelo menos sua fachada e o “tal monstro”. Até o momento não se tem conhecimento de algum registro da parte interna do comércio, inclusive podemos encontrar publicidades nos Simonianos “Almanach's de Pelotas” do início do século. O bule foi trazido da França, feito em madeira de lei, caixilhos de chumbo e vidros bisotê coloridos e sua luz era artificial e vinha de seu interior. Ao término do comércio foi vendido a uma casa que trabalhava com metais e antiguidades, na Rua Santa Tecla, cujo dono era o Sr. Argeu Fabres. O resto eu deixo o Sr. Eduardo Duarte Bernardes, filho do Sr. Álvaro Gaspar Bernardes, herdeiro do “Bule Monstro”, poderíamos dizer assim, explicar com suas próprias palavras:

        - Infelizmente meu primo, Luiz Carlos Ferreira Bernardes de Porto Alegre, comprou o bule do Sr. Argeu Fabres e teve a infeliz ideia de levar para capital, estava ele reformando sua casa, ai houve uma fatalidade......desabou o forro da peça onde estava o bule e o destruiu, não tendo mais recuperação, uma grande perda para nossa família e memória de Pelotas. Hoje “ele” estaria exposto na sala da minha casa, com muito orgulho de 03 gerações terem trabalhado no bule monstro.1 
1. Depoimento em entrevista por e-mail de Eduardo Duarte Bernardesem 29 mar. 2015.

Fig.11: Foto provavelmente do final dos anos 60. Nota-se o bule ainda na fachada, mesmo com letreiros de ótica. Click na foto para ampliar
Texto de Fábio Zündler
Graduando em Conservação e restauro de bens culturais móveis/UFPel


REFERÊNCIAS:
FAMÍLIA aprova mudanças. Economia, DIÁRIO POPULAR, Pelotas, 5 abr 2003, disponível em: < http://srv-net.diariopopular.com.br/05_06_03/gm040608.html > . Acesso em: 30 mar. 2015.

NETO, Paulo Gastal. Panorama Pelotas [Blog Internet]. Entrevista - Almirante Eddy Sampaio Espellet. Pelotas: Paulo Gastal Neto. 21 mar. 2009. Disponível em: < http://pgneto.blogspot.com.br/2009/03/entrevista-almirante-eddy-sampaio.html >. Acesso em: 21 fev. 2015.

FILHO, Rubens. Amigos de Pelotas [Blog Internet]. Ótica Cristal, referência de qualidade, Pelotas: Rubens Filho. 6 fev. 2013. Disponível em: < http://www.amigosdepelotas.com.br/blog/otica_cristal_referencia_de_qualidade_1.html > Acesso em: fev. 2015.

MONQUELAT, A. F.. Pelotas de ontem [Blog Internet]. Bule Monstro: pequena história de um grande bazar, Pelotas: A.F. Monquelat. 12 dez. 2015. Disponível em: <http://pelotasdeontem.blogspot.com.br/2015/12/bule-monstro-pequena-historia-de-um.html>Acesso em: dez. 2015.

NASCIMENTO, Heloísa Assunpção. Nossa Cidade era assim. Pelotas: Editora Livraria Mundial, 1889.

MARTINEZ, Leonil. Xarque com assucar/ Pelotas com Nordeste: contraponto de extremos no paladar cultural brasileiro. Florianópolis, 2000. Tese mestrado. Pag. 23. Acessado em: <http://goo.gl/uB6f0G>.

BOTELHO, Daniel Moraes. Nos telhados de Pelotas/RS: revelando rasgos no espaço urbano através de fotografias e cartões postais. Pelotas, 2013. Tese doutorado. Pag. 205 e 206. Acessado em: <http://goo.gl/YgaauL>.
Almanaque de Pelotas. Pelotas, 1913, pag. 12.
Almanaque de Pelotas. Pelotas, 1915, pag. 52.
Almanaque de Pelotas. Pelotas, 1921, pag. 309.
Almanaque de Pelotas. Pelotas, 1923, pag. 347.
Atualizada em 18.12.2015


Fig.12: A esquerda nota-se outra loja bem conhecida dos pelotenses a" Camisaria Paris Londres" de propriedade do Sr. Germano Korn, na foto em frente do prédio. Click na foto para ampliar.