Em final de meados do século XX, aproximadamente, surgiu no Fragata o grupo
carnavalesco conhecido como Jacaré do Fragata.
O grupo era formado por pessoas da comunidade que se divertiam fantasiando-se
e saindo pelas ruas do bairro e conseqüentemente pelas ruas no centro da cidade.
No início os carros alegóricos eram movidos por tração animal, depois passou a
ser puxados por tratores de propriedades do Sr. José de Souza Soares, o qual, cedeu
para a realização do evento. O Jacaré do Fragata atraía o público por onde passava.
Era um grupo bem organizado e muito animado, disposto a exibir seu carnaval com
tanta exuberância e graça.
Desfile do grupo Jacaré do Fragata, década de 60 do século XX.
Fonte: Projeto Pelotas Memória
Segundo Nelson Nobre (2.000, p. 08, 09) faziam parte desse grupo carnavalesco
Camelinho, Jaguaré, Odilon Garcia, Gilda Nunes e sua irmã, também a rainha Zilá
Matos e a sua corte. As informações sobre os componentes e composição musical do
grupo Jacaré do Fragata foram limitadas, por falta de fontes disponíveis ou,
desconhecidas até o presente momento. O trabalho realizado pelo grupo foi o resultado
de um belo e empolgante desfile.
Desfile do grupo Jacaré pelas ruas do centro de Pelotas, anos 60 do século XX.
Fonte: Projeto Pelotas Memória.
O Jacaré do Fragata foi o primeiro grupo burlesco que surgiu no bairro. Os
componentes do grupo desfilavam pelas ruas ao som da música executada pelos
mesmos.
Conforme o artigo do Sr. Bendjouya, publicado no Jornal Diário Popular do dia 24
de Fevereiro de 2001, o qual descreve sobre as curiosidades do carnaval de rua de
Pelotas, o mesmo relata que existiram alguns blocos que desfilavam sem nenhuma
verba pela rua 15 de novembro, na época a rua era mão dupla, depois passou a ser
mão única. Os desfiles aconteceram na por volta da década de 30 do século XX. Alguns
anos mais tarde foram surgindo outros blocos carnavalescos pela cidade com
denominações de animais, representação de bichos como a Girafa da Cerquinha; o
Camelo; o Galo; o Papagaio; o Tigre; o Jacaré do Fragata, este, como comenta o Sr.
Isaac, “tinha uma história muito interessante ligada à política pelotense”. O grupo Jacaré
fazia suas apresentações, tanto no bairro Fragata como no centro da cidade.
Alguns moradores ainda recordam de alguns trechos da cantiga do grupo Jacaré,
que desfilava pelas ruas como veremos a seguir:
Quem é que disse,
E não acreditava,
Que saísse o Jacaré [...]
Veio pra avenida lá do lago a pé,
Mostrar pra cidade,
Toda sua vaidade,
Que é o Jacaré.*
O grupo burlesco Jacaré durou poucos anos, o mesmo acabou encerrando sua
atividade carnavalesca e deixando muita saudade nas pessoas que o admirava.
Com o tempo foram surgindo outros grupos burlescos; escolas de samba com
belos desfiles como a escola de samba Imperadores da Guabiroba e Unidos do
Fragata. Por falar em grupos carnavalescos, com o qual a população se divertia, vale a
pena lembrar que no século XX, final da década 50 aproximadamente, a população do
bairro freqüentava o cinema, era o Cine Fragata, o qual apresentava bons filmes,
principalmente do cantor gaúcho Teixeirinha, o cinema ficava lotado como recorda alguns moradores, tinha que ter muita paciência, pois a fila era enorme. O Cine Fragata
também apresentava shows, como o do cantor Cauby Peixoto, o qual atraía multidão
para o local. O local também passou a ser utilizado pelas escolas que faziam
apresentações de seus alunos e professores, eram usados também para outros fins.
O Cine Fragata encerrou suas atividades aproximadamente, entre o final da
década de 70 e inicio dos anos 80. O prédio foi reformado e hoje funciona no local um
salão de baile (kazão).
*Trechos fornecidos por algumas pessoas que recordaram uma parte da letra da canção do grupo,
como a senhora Irai, o senhor Antonio Luis e dona Flora,. Maio de 2007.
Elisabete
Porto de Oliveira em Viagem na
memória do Fragata: Estudo sobre a história e cultura de um “Bairro Cidade”. Pelotas, 2007.
Página 8 do fascículo Pelotas Memória especial sobre os carnavais do passado (2000) de Nelson Nobre.
O Prof. Pedro Luiz Brum Fickel, natural de Pelotas, Rio Grande do Sul, é bacharel em Letras pela Universidade Federal de Pelotas e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas (IHGPEL) desde o ano de 2009, data que coincide com o início de sua extensa pesquisa biográfica e genealógica sobre MANOELA AMALIA FERREIRA, a “Noiva de Garibaldi”, e que culmina com a publicação deste livro. Segundo ele, a história da vida e de sublimação de um grande amor, que foi levada por Manoela até as últimas consequências, engrandece sobremaneira o ato de amar. Nessa história, a realidade por vezes ultrapassa a mais fértil ficção e nos fascina a cada momento, a cada nova descoberta. A história épica de um amor impossível, mas mesmo assim incorruptível, vivida por Manoela e Garibaldi em tempos da Revolução Farroupilha, ainda ecoa nos dias de hoje a nos dizer: é somente no amor, e através dele, que o ser humano encontrará suas derradeiras respostas.
Manoela, a pelotense que seria eternizada como a noiva de Garibaldi, nasceu em 08 de julho de 1820, e foi batizada em 24 de agosto do mesmo ano, na Matriz de São Francisco de Paula.
O autor Prof. Pedro Luiz Brum Fickel estará lançando seu livro dia 11 de Fevereiro, às 19:30h na Biblioteca Pública Pelotense.
Sinopse
O Rio Grande do Sul e o Brasil há muito têm ouvido falar de um romance épico, em tempos da Revolução Farroupilha, entre o corsário italiano Giuseppe Garibaldi e a bela Manoela Amalia Ferreira. Manoela e Garibaldi apaixonaram-se perdidamente, a ponto do futuro “herói de dois mundos” pedi-la em casamento somente alguns meses após seu primeiro encontro. Os pais de Manoela, entretanto, iriam impedir essa união, sob o pretexto de que ela estaria prometida a um dos filhos do Gen. Bento Gonçalves da Silva, líder das forças republicanas. Apesar do impedimento, Garibaldi jamais esqueceria Manoela. Em suas “Memórias”, ele mencionaria o “culto divinizante” que nutrira pela gaúcha de seus sonhos. Manoela, por sua vez, optaria por manter a chama de seu grande amor eternamente acesa. E assim o fez, por toda a sua vida. Morreu solteira, no início de 1903, na cidade de Pelotas, sua terra natal, onde era conhecida como “a noiva de Garibaldi”. Respeitada por sua opção enquanto vivia, após a morte Manoela atingiria o status de verdadeira heroína no imaginário popular gaúcho. Porém, decorrido mais de um século de sua morte, e apesar de seu grande apelo, a personagem real ainda se encontrava envolvida pelo manto do desconhecimento. Esta biografia de Manoela Amalia objetiva fazer um resgate histórico há muito devido, não só através da reconstrução dos mais variados aspectos de sua vida no contexto do século XIX, como também do resgate dessa comovente história de sublimação de um grande amor, onde realidade e ficção muitas vezes se confundem ou tomam sentidos opostos. A história de um amor impossível vivida por Garibaldi e Manoela ainda ecoa nos dias de hoje, e nos revela que é somente através do amor que o ser humano encontrará as derradeiras respostas para seu conflito existencial.
Aldo Locatelli nasceu em
Bérgamo, no norte da Itália no ano de 1915. Nasceu em uma família
humilde mas que tinha como valor básico o estudo e como meta a boa
formação dos filhos. Desde os dez anos de idade o menino manifestou
interesse pela pintura, a partir do contato com restauradores que
trabalhavam recuperando obras na igreja local.
Em 1931 fez um curso de
decoração no CursoLivre de Instrução Técnica, ligado à
Indústria Andrea Fantoni. Ali teve aulas com o pintor Francesco
Domenighini, que lhe proporcionou pela primeira vez contato com obras
de grandes mestres da pintura renascentista. Um ano depois foi
admitido na Accademia Carrara, de Bergamo, célebre instituição de
ensino superior de arte, sendo introduzido no método e filosofia
acadêmicos e tendo contato com Conrado Barbieri, diretor da
instituição, cujas ideias fascistas teriam influenciado o artista.
Nesta época teria produzido muitos estudos de retrato, paisagem e
natureza-morta, num estilo ainda incerto e tendendo à estilização.
Mas já então seu trabalho se destacava pela sua habilidade em
construir cenas complexas e dramáticas.
Premiado em 1937 com uma
bolsa de estudos para aperfeiçoar-se na Escola de Belas Artes de
Roma, aprofundou seus estudos sobre a arte da Roma Antiga e da
Renascença, cristalizando uma filiação estética que seguiu por
toda a vida.
Entre 1943 e 1945,
durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou em sua primeira obra na
Catedral de Gênova. Suas obras religiosas estão no Santuário de
Mulatiera, Paróquia de Santa Croce, Convento das Irmãs
S.S.Consolatrice, em Milão, Catedral de Gênova, cúpula da igreja
Nossa Senhora dos Remédios, Santuário Nossa Senhora da Pompéia,
Colégio da Consolata, em Milão entre outros.
Em 1948 viajou para o
Brasil, a convite de Dom Antônio Zattera, bispo de Pelotas, no Rio
Grande do Sul, para pintar a Catedral São Francisco de Paula. A
cidade lutava contra o declínio econômico e cultural, após ter
sido conhecida no fim do século XIX até o início do século XX
como "a Atenas do Rio Grande" e ter então dominado a
indústria do charque, uma das maiores fontes de renda estadual na
época. Neste ciclo Pelotas havia produzido um grande pintor,
Leopoldo Gotuzzo, que entretanto se mudara ainda jovem para Roma a
estudo e depois se fixara no Rio de Janeiro, o centro da vida
cultural brasileira. Seu nome permaneceu, porém, lembrado na cidade,
e seu sucesso orgulhava os pelotenses.
Locatelli passou a a
lecionar na Escola de Belas Artes em Pelotas no final da década de
1940. Organizando exposições de trabalhos de alunos e de sua
própria autoria. A contribuição de Locatelli a Escola teve uma
importância fundamental para consolidar e modernizar o sistema de
artes na cidade, embora novamente tenha enfrentado muitas
adversidades por escassez crônica de recursos.
Permaneceu no Brasil,
com sua esposa Mercedes Bianchieri, acompanhando-o desde seus
trabalhos na Itália, e com ela teve dois filhos.
Em 1950 firmou contrato
para a decoração da Igreja de São Pelegrino, em Caxias do Sul, e
logo sua fama chegou à capital, Porto Alegre, vencendo em 1951 uma
concorrência do Governo do Estado para executar um ciclo de painéis
no Palácio Piratini.
O Rio Grande do Sul,
circunstancialmente, atravessava um período de crise e se buscavam
símbolos identitários que pudessem mobilizar a população e
acender seu civismo. Não surpreende que o tema desse ciclo,
instalado na sede do poder político estadual, tenha sido a formação
histórica e étnica do povo riograndense, tratado com forte carga
emocional e monumentalidade e centrando a atenção nas Missões
Jesuíticas, nos Bandeirantes, na criação de gado e no gaúcho, no
folclore nativo, na família como unidade social básica, na aventura
da colonização e na agricultura.
Em Porto Alegre,
Locatelli foi solicitado para pintar o grande mural do Aeroporto
Salgado Filho, o painel central da Catedral Metropolitana, o mural da
UFGRS, o mural da sala dos músicos no Instituto de Belas Artes do
Estado do Rio Grande do Sul onde foi convidado a lecionar. Em 1954
naturaliza-se brasileiro.
Faleceu em 1962 em Porto
Alegre aos 47 anos, vitimado pela inalação continuada dos produtos
químicos provenientes das tintas que utilizava. A contribuição de
Aldo Locatelli para a pintura no Rio Grande do Sul foi de grande
importância, tanto como professor quanto como criador. Assim que
chegou ao Brasil sua obra exerceu impacto positivo e foi reconhecido
como um mestre.
Detalhe de autorretrato de Aldo Locatelli (1945)
Algumas de suas obras no
Brasil:
1949 - Catedral de São
Francisco de Paula - Pelotas
1950 - Mural ‘A
Conquista do Espaço’, Aeroporto de Porto Alegre
1951 - Igreja de São
Pelegrino, Caxias do Sul
1952 - Igreja Santa
Terezinha do Menino Jesus, Porto Alegre
1954 - ‘Do Itálico
Berço à Nova Pátria Brasileira’, Caxias do Sul
1957 - Painel Central da
Catedral Metropolitana, Porto Alegre
1958 - ‘As Profissões’
/ UFRGS
1960 - Painel para
Federação das Indústrias do RGS, Porto Alegre
Série de
pinturas sobre a Virgem Maria / Catedral de Santa Maria-RS
A todos que acompanham o Projeto Pretérita Urbe e este blog um Feliz Natal. Na foto o inesquecível [para quem conheceu] Papai Noel das Lojas Mazza registrado pelo fotografo Ramão Barros, na década de 40. Foto de Marcelo Soares coletada na internet.
Pelas fotos que chegaram até nós hoje, podemos conhecer como foi esse comércio, pelo menos sua fachada e o tal monstro. Até o momento não se tem conhecimento de algum registro da parte interna do comércio, inclusive podemos encontrar publicidades nos Simonianos “Almanach's de Pelotas” do início do século. O bule foi trazido da França, feito em madeira de lei, caixilhos de chumbo e vidros bisotê coloridos e sua luz era artificial e vinha de seu interior. Ao término do comércio foi vendido a uma casa que trabalhava com metais e antiguidades, na Rua Santa Tecla, cujo dono era o Sr. Argeu Fabres. O resto eu deixo o Sr. Eduardo Duarte Bernardes, filho do Sr. Álvaro Gaspar Bernardes, herdeiro do “Bule Monstro”, poderíamos dizer assim, explicar com suas próprias palavras:
“- Infelizmente meu primo, Luiz Carlos Ferreira Bernardes de Porto Alegre, comprou o bule do Sr. Argeu Fabres e teve a infeliz ideia de levar para capital, estava ele reformando sua casa, ai houve uma fatalidade......desabou o forro da peça onde estava o bule e o destruiu, não tendo mais recuperação, uma grande perda para nossa família e memória de Pelotas. Hoje “ele” estaria exposto na sala da minha casa, com muito orgulho de 03 gerações terem trabalhado no bule monstro.1”
1. Depoimento em entrevista por e-mail de Eduardo Duarte Bernardesem 29 mar. 2015
Se você nasceu entre 1977 e 1983 e viveu a maior parte da infância na cidade de Pelotas, queremos escutar as suas histórias! Para participar, basta preencher esse formulário:http://goo.gl/forms/k0vtxyPIrr Em breve entraremos em contato. Um projeto de Karla Nazareth Apoio Pretérita Urbe - Pelotas/RS
Filho de português e de brasileira, com estudo formal apenas até a 5ª série do primário, o mecânico JOAQUIM DA COSTA FONSECA FILHO tinha um sonho: voar. Mas não seria um voo qualquer – tinha que ser em um avião feito por ele. Nascido em 1909 em Pelotas, no interior do Rio Grande do Sul, o jovem gaúcho – que era autodidata – aprendeu mecânica e construção aeronáutica. Embora pouco conhecido, tornou-se um dos mais inventivos pioneiros na aviação civil brasileira.
Aos 17 anos fez sua primeira experiência em mecânica. Sua família inaugurava uma linha de transporte coletivo em automóveis no sul do estado. Na intenção de elevar os lucros da pequena frota de Ford modelo T, Joaquim fez uma intervenção: aumentou o chassi de um dos carros, tornando-o maior, mais lucrativo, e a grande sensação daqueles dias.
Oficina Fonseca, na rua Santa Cruz.
A novidade vinha acompanhada de outra atividade a que Joaquim Fonseca dedicava tempo e dinheiro: as corridas de automóveis. Após vencer várias competições, tornou-se conhecido como desportista, o que também era raro naquela pequena cidade, já que a maioria das pessoas se ocupava da agricultura e da pecuária. É desse período a construção da Magestoza, lancha com motor dianteiro, como dizia ser o correto. Nessa embarcação, Joaquim velejava pelas praias da Lagoa dos Patos, as mesmas que mais tarde sobrevoaria em dois aviões fabricados por ele próprio.
Interior da Oficina Fonseca, na rua Santa Cruz.
A Magestoza em São Lourenço do Sul. Década de 40.
Na época do alistamento militar, ingressou na Escola de Aviação Militar, no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro, onde assistia a aulas de engenharia como aluno ouvinte, treinando na prática enquanto trabalhava nas oficinas da escola. De volta a Pelotas, criou a Oficina Mecânica Fonseca, e em 1935, durante uma viagem pelo sul do estado, conheceu Elda, com quem se casou e teve três filhos. Já familiarizado com a aviação, ele participou da fundação do Aeroclube de Pelotas, e logo obteve o brevê. Já era possível voar.
Dali até meados da década de 1940, Joaquim foi um dos três pilotos formados no Rio Grande do Sul. Ele alimentava um sonho que estava prestes a ser realizado: a criação da Sociedade Industrial de Aviões Pelotense. A iniciativa não demorou a ganhar força, e surgiram os primeiros esboços da máquina que seria o grande projeto do construtor.
Construção do segundo avião, o F2, também conhecido como "Cidade de Pelotas", nos porões de sua casa na Gonçalves Chaves, onde também foi a Rodoviária de Pelotas
Foi no porão de sua casa que Joaquim trabalhou sozinho durante os fins de semana, em segredo, por três anos, para construir seu primeiro avião. O aparelho tinha motor de automóvel, e no trem de pouso, pneus de motocicleta. Era feito de madeira e algodão envernizado. Em 1939, sua criação veio a público: os jornais locais estampavam manchetes sobre o primeiro voo do F.1, o avião de Joaquim. A notícia era veiculada junto com outra novidade de peso: os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. Essa estreia durou vinte minutos, a uma altura de 300 metros, sobre o Aeroporto Municipal, a 100 quilômetros por hora. Por motivo de segurança e devido à simplicidade dos instrumentos, eram voos baixos e solitários, que margeavam a praia do Laranjal. Na época, a maioria dos pilotos não utilizava instrumentos, sendo guiados pelo que podiam enxergar.
Após mais de 30 horas fora do chão, Joaquim considerou esse aeroplano pesado demais e o desmanchou. Sabe-se que já havia no centro do país algumas fábricas de aviões, mas não há notícia sobre modelos que tenham voado com motores de automóveis no Brasil, ainda que fosse um sistema já utilizado na Europa. Esta é uma das facetas que tornam peculiar o trabalho de Joaquim Fonseca.
Joaquim Fonseca no ato da recepção no Rio de Janeiro pelo então ministro da Aeronáutica Salgado Filho, a qual, no dia seguinte e após vários testes, homologou o "Cidade de Pelotas". Foto Diário Popular, 1943
Quando ficou pronto o segundo aparelho, o F.2, Joaquim já integrava a diretoria do Aeroclube de Pelotas como diretor técnico. Em 1942, o então desconhecido construtor quis mostrar seu novo aparelho em Porto Alegre. Joaquim e o presidente do Aeroclube de Pelotas chegaram à capital do estado exibindo o invento – a bordo do F.2. O avião foi testado pela primeira vez com o objetivo de seguir até o Rio de Janeiro, onde deveria ser exibido para a Aeronáutica. A aeronave era destinada a treinamento e turismo, de construção mista de aço e madeira, com dois lugares e com duplo comando, media 10,5m de envergadura e 6,68m de comprimento, pesando 320 quilos, com autonomia de voo de cinco horas e velocidade de 135 quilômetros por hora, atingindo teto de 3.800 metros. Além dessas diferenças em relação ao primeiro protótipo, tinha motor aéreo, do tipo Franklin – o grande motor americano da época, feito para aviões –, e rodas de avião. Nada parecia mais promissor. Jornais de circulação nacional passaram a noticiar as vantagens do novo aparelho. Dizia-se que Salgado Filho (1888-1950), ministro da Aeronáutica e também rio-grandense, poderia aproveitar Joaquim no novo ministério.
O inventor finalmente voou com o F.2, em 1943, para o Rio de Janeiro, onde foi recebido pelo ministro Salgado Filho. No Campo dos Afonsos, o aparelho foi testado durante uma semana por técnicos da Aeronáutica, que o aprovaram. Joaquim voltou para casa, acompanhado da mulher, pilotando o recém-batizado Cidade de Pelotas. No ano seguinte, foi outra vez ao Rio com o F.2. Motivado pela boa repercussão dos acontecimentos, declarou à imprensa que os projetos e cálculos da futura aeronave, de qualidade técnica superior ao modelo aprovado, já tramitavam no Ministério da Aeronáutica. No entanto, ele recebeu uma resposta negativa: a homologação do novo protótipo, o F.3, foi negada e, para piorar, ele também não conseguiu obter a licença e o financiamento para a instalação da Sociedade Industrial de Aviões Pelotense.
O ministério alegou que os materiais usados eram de baixa qualidade. Consta que Joaquim teria respondido: “Índio não tem que construir avião. Tem que comprar!”. A turbulência causada pela Segunda Guerra e a política de desenvolvimento aeronáutico dependente do modelo norte-americano, adotada pelo governo Vargas, selaram o destino do aviador.
Apesar das adversidades, Joaquim continuou com seu trabalho autônomo, não acadêmico, solitário e inventivo. Ampliou a oficina mecânica que, ironicamente, passou a consertar também aviões. No início da década de 1950, após visitar fábricas de carros nos Estados Unidos, consolidou-se como industrial do ramo de autopeças. Abriu duas lojas em Porto Alegre e uma em Pelotas para vender sua produção. No Brasil do pós-guerra, respiravam-se finalmente os ares da democracia com a eleição de Juscelino Kubitschek (1902-1976). Mas aviões genuinamente brasileiros só apareceriam bem mais tarde, por volta de 1969, um ano depois da morte de Joaquim.
Satolep Noite No meio de uma guerra civil O luar na janela Não deixava a baronesa dormir A voz da voz de Caruso Ecoava no teatro vazio Aqui nessa hora é que ele nasceu Segundo o que contaram pra mim
Joquim era o mais novo Antes dele havia seis irmãos Cresceu o filho bizarro Com o bizarro dom da invenção Louco, Joquim louco O louco do chapéu azul Todos falavam e todos sabiam Quando o cara aprontava mais uma
Joquim, Joquim Nau da loucura no mar das idéias Joquim, Joquim Quem eram esses canalhas Que vieram acabar contigo?
Muito cedo Ele foi expulso de alguns colégios E jurou: "Nessa lama eu não me afundo mais" Reformou uma pequena oficina Com a grana que ganhara Vendendo velhas invenções Levou pra lá seus livros, seus projetos Sua cama e muitas roupas de lã Sempre com frio, fazia de tudo Pra matar esse inimigo invisível
A vida ia veloz nessa casa No fim do fundo da América do Sul O gênio e suas máquinas incríveis Que nem mesmo Julio Verne sonhou Os olhos do jovem profeta Vendo coisas que só ontem fui ver Uma eterna inquietude e virtuosa revolta Conduziam o libertário
Dezembro de 1937 Uma noite antes de sair Chamou a mulher e os filhos e disse: "Se eu sumir procurem logo por mim" E não sei bem onde foi Só sei que teria gritado A uma pequena multidão "Ao porco tirano e sua lei hedionda Nosso cuspe e o nosso desprezo!"
Joquim, Joquim Nau da loucura no mar das idéias Joquim, Joquim Quem eram esses canalhas Que vieram acabar contigo?
No meio da madrugada, sozinho Ele foi preso por homens estranhos Embarcaram num navio escuro E de manhã foram pra capital Uns dias mais tarde, cansado e com frio Joquim queria saber onde estava E num ar de cigarros De uns lábios de cobra, ele ouviu: "Estás onde vais morrer"
Jogado numa cela obscura Entre o começo do inferno e o fim do céu Foi assim que depois de muitas histórias A mulher enfim o encontrou E ele ainda ficou ali por mais dois anos Sempre um homem livre apesar da escravidão As grades, o frio, mas novos projetos Entre eles um avião
O mundo ardia na guerra Quando Joquim louco saiu da prisão Os guardas queimaram Os projetos e os livros E ele apenas riu, e se foi Em Satolep alternou o trabalho Com longas horas sob o sol Num quarto de vidro no terraço da casa Lendo Artaud, Rimbaud, Breton
Joquim, Joquim Nau da loucura no mar das idéias Joquim, Joquim Quem eram esses canalhas Que vieram acabar contigo?
No início dos anos 50 Ele sobrevoava o Laranjal Num avião construido apenas das lembranças Do que escrevera na prisão E decidido a fazer outros, outros e outros Joquim foi ao Rio de Janeiro Aos orgãos certos, Os competentes de coisa nenhuma Tirar um licença
O sujeito lá Responsável por essas coisas, lhe disse: "Está tudo certo, tudo muito bem O avião é surpreendente, eu já vi Mas a licença não depende só de mim" E a coisa assim ficou por vários meses O grande tolo lambendo o mofo das gravatas Na luz esquecida das salas de espera O louco e seu chapéu
Um dia Alguém lhe mandou um bilhete decisivo E, claro, não assinou embaixo "Desiste", estava escrito "Muitos outros já tentaram E deram com os burros n'água É muito dinheiro, muita pressão Nem Deus conseguiria" E o louco cansado o gênio humilhado Voou de volta pra casa
Joquim, Joquim Nau da loucura no mar das idéias Joquim, Joquim Quem eram esses canalhas Que vieram acabar contigo?
No final de longa crise depressiva Ele raspou completamente a cabeça E voltou à velha forma Com a força triplicada Por tudo o que passou Louco, Joquim louco O louco do chapéu azul Todos falavam e todos sabiam Que o cara não se entregava
Deflagrou uma furiosa campanha De denúncias e protestos Contra os poderosos Jogou livros e panfletos do avião Foi implacável em discursos notáveis Uma noite incendiaram sua casa E lhe deram quatro tiros Do meio da rua ele viu as balas Chegando lentamente
Os assassinos fugiram num carro Que como eles nunca se encontrou Joquim cambaleou ferido alguns instantes E acabou caído no meio-fio Ao amigo que veio ajudá-lo, falou: "Me dê apenas mais um tiro por favor Olha pra mim, não há nada mais triste Que um homem morrendo de frio"
Joquim, Joquim Nau da loucura no mar das idéias Joquim, Joquim Quem eram esses canalhas Que vieram acabar contigo?
Desenho de Danilo Zasimowicz, baseado no avião F-2, construído por Joaquim Fonseca em Pelotas-RS - Acrílico sobre tela.
A primeira fotografia, do final da década de 40, provavelmente de 1949/50, mostra o bonde na Rua Benjamin Constant quase esquina 15 de Novembro. "Na esquina da quinze a calçada é curva e bem estreita, justamente por causa do bonde que passava por ali." Na segunda fotografia podemos ver os trilhos descendo a Rua Benjamin Constant. Estas fotos são contribuição do Sr. José Lauro Dieckmann Siqueira.
1953 - Os produtos Bardahl são trazidos ao Brasil pelo hábil vendedor italiano Ernesto Baroni, contratado pela Bardahl Lubricants Mediterranea. O comprador do primeiro lote de aditivos Bardahl foi o Sr. Rubens Moreira, proprietário de um posto Texaco, em Pelotas (RS).
A questão da realização ou não do carnaval 2016 em Pelotas, tem gerado uma grande preocupação de parte das entidades e, se não gerou, ainda, deveria gerar ao poder público, ao qual cabe a responsabilidade de viabilizar uma estrutura mínima para que os festejos populares possam ocorrer.
A prefeitura dispõe-se a repassar as entidades um montante de R$ 300 mil. O valor é aceitável, visto que, corresponde ao que foi dotado em 2015. Penso que as entidades deveriam aceitar esse repasse como subvenção. Seria justo, face à crise e a situação excepcional alegada pelo poder público. A partir disso, discutir as condições minimas para que o evento ocorra.
Batido o martelo, sobraria a questão do local para os desfiles? Penso que não.
Há muito, as entidades e os governantes deveriam ter incluído na sua pauta de debates e reuniões a questão de um modelo de festa popular que favoreça o aprimoramento e ao desenvolvimento do produto carnaval integrando-o as políticas de desenvolvimento turístico e econômico do município. A excepcionalidade da situação poderia oportunizar, assumidas as responsabilidades, um “balão de ensaio”, sobre alternativas no modelo de festa.
Pelotas adota, a muito tempo, o modelo do Rio de Janeiro como padrão, ou seja, o concurso em arena fechada envolvendo todas as categorias e estilos que compõe nossa cultura carnavalesca (blocos e escolas mirins e adultas, burlescos, bandas) tudo no mesmo espaço e faixa aproximada de horários.
Além de reduzir a participação do público e absorver uma soma vasta de recursos, o modelo “sambódromo”, em sua precariedade, fortalece e alimenta as criticas de uma parcela da população, que não enxerga com bons olhos o evento.
Esse formato, não produz bom resultado. Ao mirarmos o inalcançável modelo “Made em Rio de Janeiro”, esquecemos aquilo que nos torna únicos (nossas raízes culturais e nossa história), não raramente sucumbindo à mediocridade de um “arremedo”.
O saldo é previsível: prejuízos a sustentabilidade da festa, enfraquecimento da sua cadeia produtiva e decadência continuada do carnaval.
Isso posto, apresento um conjunto de idéias, com olhar direcionado a discussão que se impõe agora, e adiante. Essas idéias, acrescidas de outras originadas no debate entre as entidades, poderiam ser “testadas” no carnaval de 2016, como alternativa a sua viabilização.
1-Faça-se a luz para abrilhantar a festa
Defendo, por diversos motivos, a realização de um carnaval diurno. Mas, destaco aqui, três aspectos:
- Primeiro (referente à sua própria visualização) A luz do dia torna mais nítida a avaliação dos critérios estéticos dos cortejos, considerando-se que: impõe leveza e cuidadoso acabamento de fantasias e alegorias.
- Segundo, diz respeito à segurança do público, e dos que desfilam.
- Terceiro, por que reduz a zero uma demanda técnica sempre insuficiente e cara. A participação popular, tenho certeza, ampliar-se-ia em escala geométrica.
2- Faça-se “cultura” para encantar o público
Os desfiles temáticos e técnicos deveriam segundo essa idéia, eleger um tema comum para a mostra em 2016 , voltados à valorização de aspectos relevantes da cultura popular local.
Um tema que proporcionasse um mergulho na “Cultura carnavalesca da cidade de Pelotas”, me pareceria adequado a todas as categorias e simpático ao público, nesse momento de incerteza.
Isso em nada inibiria a inventividade, ao contrário, estimularia a pesquisa crítica da história e das suas referencias estéticas, servindo de base a construção da cena, proposta no “cortejo” carnavalesco.
O desfile teria, nas escolas de samba, caráter “épico” de critica e reinvenção da cultura popular. Nos burlescos o espaço adequado à sátira de comportamentos e costumes.
Nessa perspectiva, precisam ser avaliados os quesitos técnicos ou, considerados obrigatórios, para o desfile das escolas de samba locais (adultas e infantis) onde, também, nos orienta um organograma “importado” do carnaval carioca, em muitos aspectos, descolado da cultura carnavalesca local. Cito como exemplo o caso da obrigatoriedade de uma ala de “baianas” ou do próprio desfile organizado por alas.
Sobre esse aspecto, penso sobre alternativa hibrida entre o modelo dos clubes sociais (espetáculo plástico e alegórico), do final do século IXX e do inicio do século XX e aquele proposto pelas agremiações originadas nas comunidades negras em meados do séc XX (cordões), voltados ao envolvimento das comunidades e valorização do samba.
Penso, como proposta a ser discutida, que os quesitos obrigatórios deveriam ser: Estandarte, Alegoria temática (única), corte, passistas, Fantasias em destaque, cena de conjunto, mestre sala e porta bandeira, samba temático e bateria. A proposta visa resgatar os elementos estéticos que aproximam o carnaval a um conceito de espetáculo ou, se preferir, de uma ópera popular. Ficam valorizados os aspectos cenográficos, de dança e bailado, os musicais e os culturais/locais.
3- Diversifiquem-se os espaços para envolver a cidade e o público
É preciso distinguir os desfiles temáticos e técnicos daqueles não regulados por quesitos. Assim, vislumbra-se a possibilidade de espaços alternativos para as apresentações como por ex: o largo do mercado para as bandas, o entorno da praça Pedro Osório para as escolas e blocos infantis, a rua Osório para os burlescos e a avenida Bento para as escolas adultas.
Estas são idéias iniciais, que coloco a apreciação do universo carnavalesco da cidade e de todos aqueles que desejam o desenvolvimento da cultura popular em nosso município.