Estamos nos aproximando de mais um Dia do Patrimônio, isso me leva a
lembrar um comentário que fiz na minha rede social no ano passado,
comentei sobre o nível de despreparo que nossa cidade tem para lidar
com o nosso belo, histórico e importante patrimônio e isso não tem
nenhuma ligação com governo A ou B, partido A ou B, é histórico,
nossa história foi se perdendo e se deixando esquecer com o passar
dos anos sem que nada seja feito de forma contundente.
Como todos sabem, Pelotas já foi comparada a Paris, Pelotas já foi
dita como polo turístico, Pelotas é patrimônio histórico, quantas
vezes narrada e cantada. Onde foi parar esses títulos? Na história
que está sendo esquecida. Garanto que, se nunca essa importância
houvesse sido deixada de lado, Pelotas seria um polo turístico tão
importante para o Estado quanto é Gramado ou as cidades da serra. A
história ta aí, os prédios históricos estão aí, mas não são
aproveitados, poucos têm acesso para visitantes, poucos tem
histórias conhecidas.
A própria cidade tem subsídios para mudar radicalmente isso, somos
uma cidade universitária com cursos importantes como turismo,
história, teatro e tantos outros. Imaginem o turista chegar na
cidade e ser recepcionado por artistas, devidamente trajados como na
época perambulando pela cidade, como se ainda estivessem por aqui os
moradores da época, com convites para conhecer suas casas e estas
estarem abertas para que pudessem ser visitadas e ouvirem historias
sobre elas. Fazer uma rota turística por dentro da cidade em carro
aberto ou histórico passando pelas casas, charqueadas, praças,
praias, enfim por onde houver história a ser contada, que diga-se de
passagem é toda a cidade. Lindo seria se Pelotas fosse uma grande
cidade cenográfica, quantas pessoas viriam nos visitar tendo certeza
de que estaria vindo para dar uma volta no passado, que interessante
seria ver crianças brincando na praça com roupas e brinquedos de
época sendo reparados por suas amas, como ocorria no passado. Alunos
do teatro poderia suprir essa ideia, atores ensinados por alunos de
história, ou esses acompanhando sempre para dar as informações,
contar as histórias. Como seria atrativo e bonito termos personagens
aristocratas sentados no mercado comendo um doce, tomando um chá
conversando e convidando as pessoas para irem ao seu trabalho no
Banco Pelotense. Depois de uma volta pelos prédios históricos do
centro, poder ir, convidado por uma bela e elegante senhora a
conhecer a sua casa e descobrir que essa senhora é a Baronesa e sua
casa é o museu ou convidado por um Senhor a visitar sua charqueada e
ele ir junto até lá contando histórias sobre como construiu coisas
que passou e ir até a praia, sabendo como ela surgiu. Como seria
emocionante encontrar nosso celebre Simões Lopes pela rua ou na
biblioteca contando histórias sobre seus Contos. Porto Alegre
enaltece a Quintana, Rio de Janeiro a Drummond e tantas outras, por
que nós não? Enfim, como disse antes, uma grande cidade
cenográfica, atrativa, a final já temos os cenários prontos, eles
precisam e deveriam ser usados.
Alguns poderiam dizer que isso sairia caro, mas se bem embasado, se
bem feito, se houver todos esses atrativos, será pago com prazer.
Praticamente todos que viajam já sabem e contam que irão gastar e
terão prazer em gastar se for por algo com retorno interessante,
quantos divulgarão a seus amigos, "vá a Pelotas! é lindo,
parece que você voltou no tempo, você é recebido pelos moradores
das casas com roupas de época que contam histórias da época!",
o Dia do Patrimônio está chegando, mais um ano em que eu irei
revisitar os prédios, certamente encontrarei pessoas mal preparadas
como guias, que não saberão contar histórias interessantes, apenas
dirão o básico, o bem básico e muitas vezes o óbvio ou alguns
absurdos. Lembro de que no ano passado ouvi que nosso Arroio São
Gonçalo chamava-se Rio São Lourenço. Esse ano garanto que está
perdido, mas quem sabe alguém com força para movimentar isso
consiga preparar para o próximo ano, por favor, faria tão bem para
nossa cidade. E por final, de nada adianta isso acontecer só nessa
data, boa parte das pessoas têm apenas o final de semana para viajar
e se decidem vir para Pelotas, o que encontram são fachadas, pois
nada está aberto, nem mesmo a biblioteca, prefeitura, outros prédios
públicos e nem mesmo o mercado abre no domingo, esse último que
está lindo depois da reforma, mas não é mais um mercado com cara
de mercado, não há mais bancas com muitos cheiros, com muitos
produtos pendurados, frutas, temperos, aquele sentimento de "só
tem no mercado". Quantas vezes vejo guias, que muitas vezes são
ótimo e podiam ser melhor aproveitados, contando histórias de um
prédio fechado, com suas lindas portas tristes fechadas e trancando
a história que está lá dentro, quantas pessoas não ficam sagazes
por entrar no prédio e sentir aquela sensação de voltar no tempo
de reviver a história. Emocionante.
Não deixemos que nossa história seja ainda mais esquecida, que ela
caia junto com nossos prédios.
Texto de Carlos Pinheiro Martins
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Pelotas comemora o dia do patrimônio nos dias 14, 15 e 16 de agosto de 2015. Fonte: http://www.pelotas.com.br/
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